terça-feira, 14 de abril de 2020

Covid-19. Reflexões alternativas sobre a vida durante e pós pandemia.


- Vitor Santos


Poderíamos começar por enumerar as razões pelas quais sentimos falta da rotina ou do cotidiano "normal". Poderíamos também indicar razões pelas quais sentimos falta da correria sobre a qual sempre reclamamos bastante. Poderíamos ainda dizer o quanto é diferente essa realidade súbita que se nos foi imposta. Razões não faltam a ninguém pra dizer porque esse confinamento afetou o dia-a-dia de todos e do que mais sentimos falta se comparado ao que vivíamos antes. Esse esboço, antes de se propor estabelecer verdades, se propõe trazer um pensamento, uma reflexão ou uma nova maneira de se ver o momento. Vamos então começar com as provocações para tentar produzir ou encontrar novas maneiras de interpretar a realidade circundante, já que tempo, não é exatamente o que está faltando!

Um mundo acelerado, uma rotina conturbada, o tempo nunca suficiente. O que podemos usar como lição ou interpretação para esse momento? O que pode nos ensinar uma tão severa e cruel pandemia? Já se perguntou se algum dia, ou imaginou, que fosse viver para ver o mundo que você conheceu, como lhe fora apresentado, "semi parado" assim? Bem, respostas concretas e cabais à essas perguntas não dá para estabelecer devido à subjetividade do que a vida em sociedade impõe à cada família, individuo, cultura, visão de mundo e ideologia, e, que a normatização eventual ou catedrática, não abrangeria. Um primeiro caminho possível de tratar é: “Só mesmo uma pandemia para conseguir desacelerar o mundo e, por conseguinte, nos obrigar, ao menos aos que se propõem refletir esses assuntos, ressignificar as relações humanas. Cada um no seu tempo e momento evolutivo, compreende, à sua maneira, o que está havendo. Alguns de maneira mais prática e imediatista, outros de maneira mais filosófica e perene, além de tantos outros caminhos interpretativos possíveis. O fato é que todos foram repentinamente empurrados para dentro das suas casas (quem às têm) , sob a ameaça  imperativa de "não continuar", em caso de oposição à essa demanda. O “E,se…” nunca se mostrou tão imperativo à todos, enquanto comunidade. Tentamos sempre dominar o que está à nossa volta afim de direcionar para o que consideramos aceitável ou razoável, ou mesmo o que desejamos. E agora?

Vale mencionar brevemente que, não é a primeira vez que a humanidade enfrenta situações de pandemia e de outras calamidades em contextos gerais. Para ilustrar ou rememorar, vide a Peste Negra, que, segundo estudos, durou bem mais que o período pré e pós pico. Estudos postulam que seus efeitos foram sentidos até começo e meados do Sec XV. O fato é que naquele contexto, a situação de fragilidade social e desagregação, potencializou esses referidos efeitos nefastos da pandemia e, efetivamente, o viés humano e social passou a ser uma das principais ferramentas para interpretar o momento e propor saídas. O período da Gripe Espanhola também se mostrou trágico, e mais uma similaridade foi observada na expansão do problema, a qual também hoje ajudou a alastrar o SARS-Cov-2, que é a vida em sociedade. Para isso leia-se a locomoção e interação entre as pessoas como sendo o principal agente dissipador do invisível vírus. Existe motivo ou lógica que se entrelace e que nos permita entender de maneira mais contundente ou determinante o fato que, de tempos em tempos, a humanidade enfrente situações epidêmicas ou pandêmicas? Responder à essa questão, ou mesmo abordar algo como sendo comum entre essas situações pode se carcterizar mesmo como uma missão hecúlea para a qual, receio não termos um Hécules. Isso sem entrar nas devastações que todas as guerras históricas já produziram. Realmente é uma tarefa não muito simples, mas não nos impede de buscar caminhos alternativos para relativizar a interpretação e, quiçá, aprendermos algo com ela, ainda que fragmentado, duma realidade tão avassaladora. Ainda bem que o caminho aqui proposto é reflexivo e não impositivo, a dúvida, antes que a verdade absoluta e imposta... o questionamento como forma de evolução e produção intelectual.... Filosofia? rs.

Doravante, algumas possibilidades interpretativas podem ser levadas em consideração e aventadas como razões pelas quais chegamos a esse ponto, dentre as quais, a famosa teoria da conspiração, nesse exato exercício humano de encontrar razões para explicar o que se lhe apresenta. Para além de reforçar ou descredibilizar essa sedutiva linha de pensamento, escolho direcionar por outros caminhos mais reflexivos e edificantes, antes que polêmicos, à saber: já parou pra pensar o quanto há muito não olhávamos para o quanto todos dependem de todos? Desde que, na teoria, aceitamos o “Contrato Social" do Thomas Hobbes, alienamos parte da plenitude do “ser natural” para que a vida fosse possível entre nós, tornando-nos “seres sociais” – O homem é o lobo do homem e, portanto, precisa do Estado para regular as interações entre eles na vida em sociedade”. Isso fatalmente nos põe em contato com o outro e nos "imbui" estabelecermos relações supostamente civlizadas, sujeitos à uma autoridade maior que regula essas relações através dos seus mecanismos característicos. E o Estado de Natureza? Será que não é exatamente esse retorno que estamos vendo de maneira reduzida ou em menor proporção? A defesa da vida e, com isso, dentre outras coisas, a necessidade de garantia dos seus víveres volta a ser a prioridade individual, após tanto tempo sem isso ser tido, ou reconhecido, como centro delas. 

Ainda no contexto das relações sociais, pense: quando foi a última vez que olhamos para os mais frágeis, mais vulneráveis, sobretudo, os mais velhos, sem nos irritar com os passos mais lentos ou com a demora maior num atendimento bancário ou de supermercado, em detrimento exatamente à sua condição de fragilidade física, se comparados aos menos avançados em anos? A proposta com esse pensamento é exatamente mostrar a necessidade de ressignificação das interações humanas pelas quais passamos por cima todos os dias, porque, não há tempo! O boleto não deixa, a mensalidade não atrasa chegar, o ônibus passa, o trem também. Mas você já aproveitou esse momento, no seu efeito colateral, e olhou para o quanto estamos tendo que  aprendender a reviver, ressignificar, reencontrar, redescobrir? Para além de que isso não seja uma tentativa de estabelecer lado bom em uma pandemia, mas tão somente um efeito colateral dela. Uma família sempre esteve ali, sempre precisou de atenção, afeto, sempre apoiou e se orgulhou de tudo o que você representa. Quantas vezes pensou no que representa para os seus? Mas, tínhamos tempo de observar isso? A professora das crianças sempre pediu um pouco do seu tempo para dividir a tarefa da educação, nem sempre fácil, que esses pequenos nos impõem. O enfermeiro, antes que o médico, em igual importância, a pessoa que limpa o leito e o quarto para receber o próximo coitado doente, e assim, tentando evitar novas doenças e contaminações, o caixa do supermercado que preciisa estar ali, o repositor, senão, quem come, quem trata, quem limpa, quem educa? Viu um pouco do outro lado? E o que vamos aprender disso? Costumo mesmo falar em alguns papos mais acadêmicos e filosóficos, que foi necessário uma pandemia para o ser humano entender que ele não é uma ilha, não vive no mundo só com a sua família ou com os seus anseios e ambições, e que existem pessoas ao redor que podem servir de inspirações, exemplos e aprendizados também para si. Dessas lições eu gosto de olhar alguns exemplos de como as pessoas se solidarizaram mais com o outro, mesmo com a manutenção da distância física ou com medidas de precaução. Isso também é solidarização, já que o vírus não escreve na testa de ninguém onde ele está.

Uma outra perspectiva a ser abordada é o fato de que o planeta tem mostrado o quanto ele precisava respirar e não estávamos enxergando. Essa correria nos cega não é mesmo? Mas já parou pra pensar que também foi um alívio se focarmos nesse aspecto? Novamente o objetivo não é destacar "um lado bom" de pandemia pois este efetivamente não existe, e sim, enfatizar um efeito colateral dela que pode ser fonte de aprendizado e ressignificação. Os bens de consumo supérfluos estão, em sua maioria, muito menos valorizados neste momento. Apenas as necessidades básicas estão sendo priorizadas durante este período, o que, historicamente, já foi um dia a única prioridade do ser humano. Quem sabe um vírus teve o poder sobre-humano de nos tornar novamente “humanos”? Só mesmo escolhendo fechar os olhos para não enxergar a lição que, novamente, como efeito colateral, esta pandemia nos trouxe. E, para fechar de maneira bem superficial, trago mais uma pergunta: “Como você vai voltar ao "normal" após esse momento, se voltarmos? Como será o novo "normal"? Como fará o seu dia-a-dia mais humano depois dessa fase que a todos afetou e privou?” Se em algum momento isso vai te mostrar que “a moda passa, a malha esgarça, acaba a graça e a novidade…. O tempo corre, a rosa morre… nem tudo funciona de verdade…” e que nós também passaremos, mas, se não fizermos uma bela passagem por este plano, nem mesmo os sacrifícios já consumados até aqui, farão sentido.

As vidas humanas importam, algumas muitas já foram perdidas, outras estão ali se arriscando para exatamente tentar a continuação dela. Permita que a sua continuidade seja melhor após esse aprendizado que não sabemos até quando durará. Se um ou dois aprenderem, podemos tentar influenciar o outro a também aprender a olhar para o lado e ver um semelhante ali, um irmão. Tudo pode ser uma oportunidade de aprendizado. Suba na mesa que verá que nem todos os ângulos estavam sendo abrangidos pela visão que sempre trouxemos conosco, ou aprender uma nova forma de ver a mesma coisa. Esta, pode ser uma boa oportunidade de aprendermos “sem ser ensinados”. Ouvir “o que não está verbalizado”. Quando pensar que conhece demais uma situação, “suba na mesa”. Que o além-humano seja um refúgio de alguma maneira e um alento para o porvir. Não desperdice sua chance de apender e melhorar enquanto ainda lhe é dado tempo.

Referências: “A legislação Econômica e Social Consecutiva à Peste Negra de 1348 e Sua Significação No Contexto Da Depressão Do Fim Da Idade Média (I)” – Victor Deodato da Silva – Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

"Nem tudo funciona de verdade" (Poesia musicada) - Daniela Mercury

"Sociedade dos Poetas Mortos" (Filme) - Peter Weir (Diretor), Tom Schulman (Roteiro).

sábado, 21 de dezembro de 2019

Uma Dara de inspiração!


Esse texto nasce a partir de uma idéia fruto duma conversa que começou banal, com o único intuito pitoresco de rir como sempre é feito, e daí saiu uma verdadeira inspiração... Uma inspiração feminina, que se reflete em diversos aspectos da vida cotidiana e em sociedade. Vamos tentar falar de maneira simples sobre abusos físicos e psicológicos discretos, que, em determinadas situações, podem até culminar no infleiz e injusto feminicídio, guardadas a suas devidas proporções. Posto a realidade atual brasileira, que, não exclusiva no mundo, ele, o feminicídio, e práticas similares, como do subjulgar, do agredir, do subtratar fisíca, psicológica e emocionalmente quem se entende inferior ou dominado, trago aqui uma figura real e situações infelizmente reais, além de, lógico, confabular para extensões que podem atingir muitas outras expressões e pessoas na correria do cotidiano. O convite é então, à reflexão. 



Devo registrar que, artigo da Revista Fórum de novembro de 2019, traz a triste notícia do aumento das ocorrências neste país referido (https://revistaforum.com.br/brasil/pesquisa-mostra-que-casos-de-feminicidio-no-brasil-registraram-alta-de-13-em-2019/). Em Portugal, os números reportados em novembro de 2019 pelo Jornal Expresso são bem menores mas não menos injustos e indignantes, nos quais vê-se que, 28 pessoas foram vitimadas fatalmente esse ano. Isso só falando das registradas, sublinhe-se bem. Acrescente-se que a legislação de cá, não prevê ou conhece "Marias da Penha" e toda a sua implicação. (https://expresso.pt/sociedade/2019-11-22-Mais-de-500-mulheres-assassinadas-em-Portugal-nos-ultimos-15-anos.-28-perderam-a-vida-em-2019). Todavia, sublinhe-se também as diferenças de dimensões territoriais e populacionais dos dois países que isso ajudará a entender que os dados não são, linearmente, muito discrepantes. Tem uma série de coisas que entram nessa conta também, as quais não pretendo abordar, para focar no tema proposto aqui. Vou limitar também, que fique avisado, ao meu raio social que efetivamente é o máximo que consigo e pretendo, por isso esas duas fontes.



Nossa personagem aqui será chamada de Dara (tenho muito carinho por esse nome que peguei do João Ubaldo Ribeiro em Viva o Povo Brasileiro, amo!). É uma constante que na vida, nem tudo se pode e que se está submetido à julgamentos de todas as maneiras e em todas as esferas sociais... até aqui nenhuma novidade! A nossa personagem Dara, se apresenta como uma Mulher em maiúsculo, desbravadora e quebradora de paradigmas (espera só pra ver, continue lendo), ainda que aparentemente fazendo parte do estereótipo de que toda sociedade condicionada e impregnada de preconceitos, concebe. Separe-se aqui a idéia de preconceito que é um outro assunto muito mais abrangente e complexo, não é esse o objetivo a tratar... me refiro, nesse caso, aos preconceitos aceitos e naturalizados como socialmente execráveis via de regra e, parte do ideário popular, dada à nossa condição evolutiva hodierna.


Vamos à situação em questão para continuar o diálogo: Abuso psicológico, desrespeito, machismo, depreciação, involução cognitiva, meninice.... e vamos parar as caracterizações dos comportamentos do vilão por aqui pra não mudar o tema do diálogo. Entretanto, atitudes subjetivas e práticas tipicas de uma sociedade infelizmente, ainda SUB, mesmo sem generalizações pretendidas. No referido caso, essa linda Dara, que para ajudar a entender um pouco do seu contexto pessoal, é praticante da religião dominante no Ocidente (por conseguinte imagine o que essa informação lhe diz à partir da imagem que lhe veio à mente com ela), certa dos seus ideais, protegida pelo amor de uma família que sempre está pronta para a luta, tal qual uma tribo, à fim de defender os seus, viveu determinadas experiências mas que, o seu exemplo de resposta, me veio como possibilidade de inspiração para outrem, por isso o motivo desta publicação. Mas puxa vida, não saio dessas contínuas introduções de Dara né? Vamos à situação objeto:



Imagine uma pessoa que viveu sua juventude numa realidade adversa, lutou, se educou e consquistou seu espaço social e profissional. Dito isto, acrescente-se a sua devoção forte, concisa e segura às suas crenças e práticas religiosas, repito, da religião ocidental dominante. Aqui o primeiro contraponto às introduções feitas, pois, a consciência de ser social e humano não lhe faltou na circunstância a ser abordada nesse exercício e, por isso, se justifica o objeto da conversa neste que é apenas diálogo simples, antes que qualquer pretensão de um postulado, para tentar falar, de maneira simplória e incompetente, de uma prática cada vez mais, infelizmente, tão presente e variada na atualidade. 



Pois bem, nossa heroína de hoje, dentro daquele contexto religioso do casar com o homem que te respeite, que vai liderar sua casa, porque assim lhe fora doutrinado, e que o matrimônio seria sua maior expressão do amor e união de dois, ao final se tornando UM, além de todos os clichês consoantes à ocasião... Lindo né? E o que se faz quando o que agrava é ter um contexto, concomitante, de um enlevo social tão próximo e íntimo, que, sobretudo, te influencia a manter qualquer situação independentemente qual seja o custo do sacrifício material, pessoal e subjetivo, porque esse é o papel que você nasceu para representar? 


Bem, depende.... Senta aqui pra a Tia explicar: O primeiro ponto de ponderação que ouso colocar aqui é, até que ponto se deve abrir mão de si por uma imagem ou vida social que corresponda ao que o outro pensa ou espera? Para a nossa guerreira aqui, nenhum hífen seria aceitável. Agora vou elencar algumas situações de foro íntimo que, se entraram neste texto, passaram antes pelo crivo e autorização da protagonista:

- "Mulher tem que ter minha roupa e sapatos limpos se pensar em sair comigo, porque eu não posso fazer figura de sujo e tampouco lavar e cuidar dessas atividades inferiores tendo uma mulher dentro de casa. Ainda que seja uma mulher que trabalha muito fora para contribuir para as finanças domésticas."

- "Mulher não pode vestir o que eu não quero e gosto, ainda que não seja vulgar, desrespeitoso, ou insinuativo (Lembra que Dara é religiosa praticante e, para além disso, SE RESPEITA MUITO!!!)."

- "Quando a mulher não aceita que eu não quero que ela use aquela roupa, EU, macho alfa, posso te molhar ou sujar com um copo de água para lhe forçar trocar a roupa que eu, sem o mínimo de razoabilidade impliquei. Ainda bem que Dara reage sempre à tudo e nesse caso, devolveu com uma panela cheia d'água e prometeu que a próxima seria fervente.... situou o meliante agressor."

- "Por último, o querido marido, revelador de si mesmo só após o casamento, que durava apenas 2 meses, resolve, numa viagem, não ir pois o seu chinelo não recebeu o milagre de aparecer instantaneamente limpo, após ser deixado sujo e, (tem gente que leva a fé às últimas consequências... rs), porquê, mesmo em detrimento `isso, a rebelde esposa resolveu não desmarcar não satisfazendo ao seu capricho, ou pior, não realizou o seu milagre esperado. Continuando, Dara foi sozinha à viagem de folga previamente organizada, na companhia dos amigos casados, igualmente religiosos e respeitadores. O que fez o nosso vilão? Sumiu no mesmo dia e, após a sua volta, se recusou a qualquer contato e blablabla.... resumindo: ao menos 15 dias sem pisar em casa. Considere os longos 3 meses de casados apenas, numa tradição que este é o período que normalmente tudo ainda são flores."

Isso tudo acima já revolta o suficiente à qualquer ser humano minimamente pensante e o faz já querer distância né? Dá pra entender de onde começam os abusos maiores e as mais fortes, até mesmo com fatais consequências? E pensar que ainda tem o jogo comumente usado de se fazer de vítima arrependida e filho da esposa, para ainda tentar fazê-la sentir culpada por não atribuir-lhe o tratamento materno e condescendente para desvios expostos de caráter. "Casou ou foi adotado querido?"

Resultado da saga: Divórcio em poucos meses de casados, destemidamente, altivamente e totalmente independente, após uma fuga cinematográfica de casa para o refúgio materno e, o que é mais surreal, aguardo certeiro de rastejamento e busca desesperada (dela) de perdão como tentativa de recuperação marital. Dá pra crer? Doravante, o que na prática ocorreu foi: Oficial de justiça entregando no endereço da família a convocação para a audiência de divórcio e, com direito a espanto total da decisão, além da certeza que isso seria revertido com certos discursos e atuações igualmente teatrais que não vale a pena alongar aqui. Imagino que, dentre outras coisas, não tinham entendido quem era efetivamente Dara, por isso tanta surpresa e choque. Tem noção do que representa essa atitude da nossa heroína aqui e o recado poderoso de: "eu não preciso de você, nem emocionalmente, e não vou permitir que essa prática, já manifesta no início da relação, continue a acontecer pois sei que é um processo em constante crescimento e que não se pode prever o seu fim e eventuais consequências"?

A maior lição que, na minha interpretação, fica e pode inspirar muitas outras mulheres e minorias: NÃO PENSE QUE VAI MELHORAR... ACABE MESMO NO COMEÇO E NÃO SE IMPORTE COM O QUE VÃO PENSAR. "Oxi menina, vá-se imbora que tem mais vida lá fora, rumbora que a vida é maior do que qualquer situação específica!" A vida à dois, é para ser feliz para os dois. 

Os problemas, a vida já se encarrega de trazer e, juntos, vão resolver, amenizar esquecer, superar, lutar... ou seja lá o que queiram. Mas o problema não pode ser o outro, ou não se tem que suportar o outro como problema porquê se tem um procedimento consequente de uma exposição de recém-casados-rompidos a evitar! (criei a expressão rsrs). A sociedade não vive sua vida nem a sua casa, mas tenta te impor todos os dias como você deve viver cada detalhe da sua vida nela. Exposição pior é ser infeliz pra dar satisfação a quem não se deve! Como isso serve para tantas outras coisas.... É imperativo ser influenciado pelo meio, mas isso também tem e deve ter o limite da subjetividade e do exercício da individualidade saudável. Cada um é responsável por colocar o seu limite tão logo julgue necessário. 

O que a nossa guerreira nos ensina ainda é que, você só é minoria (questionável), mas não mais fraco. Existem caminhos que se deve buscar para fortalecer o que nos edifica antes que àqueles que nos detrata e fragiliza. E sabemos que essa proposição é muito abrangente. Vamos lá nomear, sem estender, para não perder o foco da homenagem reflexiva: negros, homossexuais, índios, minorias étnicas e religiosas, minorias políticas.... e outras que não tenho conhecimento ou que não lembrei agora. O grito de liberdade vem de dentro. O aceitar é permissivo. O ser feliz consigo mesmo, É libertador! Que cada vez menos mulheres se sintam responsáveis por manter uma relação com sinais de abuso, seja ela qual for. No caso da nossa Dara foi casamento formal e tradicional. O ser feliz à dois, é responsabilidade dos dois. Em alguns lugares isso já nem é mais tema, porém a minha origem ainda me faz debruçar sobre isso pois faz parte de mim e do que busco resolver enquanto pensamento. 

Por isso, agradeço profundamente à Dara por compartilhar seu depoimento com tantos detalhes e me permitir escrever esse simples relato que tem como único objetivo, inspirar mais mulheres e, quiçá, outras pessoas que talvez se identifiquem! O pensar fora da situação e da caixa, liberta!

Finalizo deixando como sugestão de leitura: A Amante de Bretch, Greta (Mônica de Castro), O Preço de ser Diferente (Idem), Dom Casmurro (Eterno e amado Machado de Assis), Liberdade (Hans Kelsen), Felicidade ou Morte (Leandro Karnal e Mário Sergio Cortella), Bárbaros e Iluminados (desbravador em pensamento social, não lembro o autor e olhe q li ano passado.... Velho!). Certas leituras ajudam a abrir a caixa! Força Daras, espero que tenha orgulhando mais gente além de mim. Parabéns!

quinta-feira, 22 de março de 2018

Impressões Portucalenses não autorizadas.

Sempre foi proposta aqui escrever sobre assuntos relevantes, de tópicos predominantemente acadêmicos, guardando suas devidas proporções..... muito também em detrimento à minha avidez por tal.... Sempre li coisas de pessoas que visitam o país e cada um expressa sua opinião majoritariamente positiva... povo, cultura e suas características. Este texto se propõe acrescentar as minhas impressões baseadas na experiência de estar morando por aqui há pouco tempo, mas com uma curiosidade e apreço tamanhos pelos aspectos peculiares e sua história.

Quero, doravante, apontar que, por ser a cidade de Guimarães o meu horizonte de alcance inicial em Portugal, muitas das minhas impressões se margeiam a partir desse limite, com acréscimos pontuais que descobri visitando alguns pontos de outras cidades e fuçando informações...... 


Quero contibuir dizendo que o país é realmente muito bonito, culturalmente forte e orgulhoso disso, saudoso em certa medida de um tempo áureo de relativo protagonismo  mundial que, com a modernidade, se orgulham de recuperar seja pelo turismo, sejam pelos prêmios e reconhecimentos que recebem de organizações mundiais hoje em dia, mas sem deixar de ostentar suas tradições, como que um resgate ao seu passado glorioso, ou tradicional.....(isso depende)! Aqui do norte se vê um pouco mais de tradição. A cidade de Guimarães é conhecida como o berço de Portugal, fundada pela Mumadonna e chamada então de Vila Baixa que depois veio a sediar o Condado Portucalense  e que, posteriormente vem a ser o Reino de Portugal. Seus primeiros monarcas foram o Rei Afonso Herique e Catarina de Bragança. O Paço dos Duques, construído no século XV, foi a morada oficial da coroa e é um belo convite a tentar sentir um pouco dessa sensação de pisar na Idade Média. Voltarei a falar dessa maravilha!


Também por aqui se vê mais comportamentos específicos que prefiro que a subjetividade individual de quem visita explicite para não incorrer em julgamentos superficiais ou equívocos, já que não me proponho estabelecer verdades e sim registrar pensamentos. Estes, embora não sejam "lugares comuns", tomando como referência Lisboa, Porto e mais regiões turísticas, aos quais (alguns) brasileiros estejamos acostumados até mesmo a brincar, como nosso comportamento original pressupõe, me parecem muito reflexo de uma tradição herdada e que ainda resiste se manter viva..... (como em muitos lugares do mundo). 


Em linhas gerais, o país passa por um boom imigratório inclusive de pessoas oriundas de dentro da União Européia, África, Brasil, China, dentre outros. É válido mencionar todavia que, o perfil imigratório é um pouco diferente dependendo de onde se venha. Em linhas gerais, o último levantamento a que tive acesso apontava os franceses como os que mais chegavam ao país, seguidos dos chineses e depois dos brasileiros. Em geral franceses buscando tranquilidade, segurança e descanso pós aposentadoria, chineses como sempre abrindo negócios e trabalhando muito e os brasileiros em geral fugindo de alguns problemas sociais que temos no país e buscando sua oportunidade de "fazer a América". 

Entretanto vejo que tem muito do que herdamos, muito da simpatia.... mesmo no norte, que outrora disseram que seria mais tradicional e difícil! 

Um país desenvolvido, seguro, amistoso, porém responsável e correto até onde pude ver. Falo de coisas como as atitudes das pessoas, do cotidiano, segundo a crença de que o governo de um povo reflete a atitude do mesmo. Falo de uma economia em que ninguém busca a ostentação, a superação do outro e que o bem estar é o suficiente, a vida digna é o buscado e que já se lhe é oferecido (não à custa de conquistas "meritocráticas" ou de exemplos de superação, pois estas já foram consolidadas no continente!). Mesmo assim, vejo um povo que sempre busca melhorar, a partir da sua inquietude e manifestações populares em porta de empresas por  decisões que afetam o coletivo, em mobilizações por processos judiciais de clamor popular, interesse em política e assuntos relacionados à sua legislação, sua magistratura, não perdendo olho no futebol e em expressões multiculturais e, logicamente, entretendo-se no café ou no armazém com uma bebida e um bom papo. Portugal me parece inicialmente assim!

Natural que os problemas existam como em todos os lugares onde há vida humana. Corrupção, incêncios naturais e criminosos e outros tais. Não pretendo focar neles aqui. 

Voltando a Guimarães, moltivo original em escrever, pra quem gosta de história é um prato cheio!  As ruas do Centro histórico são um convite ao passado. Eu, como sou apaixonado, fico devaneando toda vez que vejo as vielas, os portões antigos tipo de fortaleza, imaginando como fora nos séculos anteriores, as festas, o cotidiano, os vestidos, os suplícios também, os vizinhos..... enfim, confabulo sobre como era viver nessas ruas que hoje vejo, naquele tempo..... daí começa a viagem toda vez e de novo, rs!!! (Talvez quem leu os clássicos possa ter essa imaginação, é o que me remete).


O Paço dos Duques, erigido a mando do Rei D. Henrique e Catarina é de uma magnitude aos meus olhos que é muito penoso pensar que, após seus respectivos falecimentos, ficara por um punhado de muitos anos abandonado, chegando a virar ruínas. Até que o resgatador programa de governo (não sei ao certo), de restauração, os tirou do limbo e os tombou para hoje nos deleitarmos imaginando o antes..... só imaginando mesmo pois o prédio é original mas a mobília não, embora seja também histórica. Incrível a grandiosidade e impacto dessas maravilhas de perto!!!! Eu me sinto em casa lá.... faço a local literalmente.... rsrrs.


Óbvio que existem outros castelos e palácios espalhados por todo o país, e os respeito igual pela sua história, e pela História em si, que tanto amo e me encanto. Porém esse Paço dos Duques me tem um pouco a mais de carinho por ser o primeiro a ser visitado e por ser o primeiro de Portugal.... (concluíndo a partir da assertiva de Guimarães ser a origem do Reino de Portugal).


Sublinhando a prioridade em preservar o seu passado e manter viva a sua memória, é impressionante no povo português o seu contexto clássico-moderno. Vê-se nas estruturas, arquitetura, comportamento, criação, comida e em coisas que ainda tô por descobri mais  do supra mencionado. Como uma pessoa que já viajou um pouco a Europa (não a ponto de conhecer ela toda.... não seria tão presunçoso, nem teria capacidade pra tanto....), asseguro que esse país, por vezes não tão merecidamente valorizado, encerra em si informações, curiosidades, cultura e tantas coisas que precisaria de uma viagem tal qual a desbravadora viagem à África do Haushofer, pra conhecer hoje em dia o já tão descoberto, à parte os livros!!!


Encantamento, surpresa, beleza, ternura, cultura, atualmente multicultura, e receptividade é o que tô aprendendo com o povo daqui. Certamente o carinho já existe!!!!

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Ameaça ao protagonismo global dos EUA.



A pressão atual do ocidente contra a Rússia mostra mais uma face do imperialismo norte americano. Os apregoadores da democracia e autointitulados seus maiores defensores continuam sua histórica negligencia à soberania dos Estados e da auto afirmação dos povos. Sanções das mais pesadas estão sendo impostas a Putin pelos americanos e seus aliados.
Após a anexação da Criméia, os EUA iniciaram uma série de retaliações ao Kremlin no campo da economia seguidas por outras potências. A economia russa de fato tem sentido bastante os efeitos dessas sanções, mas o governo mantem sua política independente e soberana. Independente das razões de ambas as partes o não curvamento de Vladmir Putin aos ditames americanos evidencia ainda mais o enfraquecimento americano no seu papel de superpotência global e imperial. Entretanto, é digno de nota que, a Rússia também compõe o fechadíssimo Conselho de Segurança da ONU de maneira permanente e com poder de veto. Além disso, o fato de os russos também serem uma potencia nuclear compõe este cenário extremamente complexo.
Poucas são as chances da Ucrânia fazer frente ao poderio militar e político da Rússia especialmente sem o apoio do Ocidente. Aliado a isso tem o fato de que a população da Criméia, visando uma condição econômica mais favorecida do que viviam sob o jugo da Ucrânia, além é claro de fatores culturais, se proclamou também russa através de referendo realizado após a anexação.
Um paralelo se faz mandatório aqui, pois, se olharmos para o aliado americano Reino Unido, um dos argumentos utilizados por eles para justificarem a manutenção do poder das Ilhas Malvinas (ou Falkland Islands) é exatamente um plebiscito realizado entre os moradores da ilha que votaram por continuarem sob o domínio inglês. Ora, os moradores atuais de lá foram colocado propositadamente pelo Reino Unido numa época que pouco se dava atenção a ilha. O fato novo é que foi descoberta uma grande reserva de petróleo o que aumentou e muito o interesse por ela. Nesse caso a autoafirmação dos povos é imposta como argumento para justificar a ocupação, porém no caso dos russos o mesmo critério não se faz aplicável.
O contexto atual é de tensão entre os dois países mas dificilmente se acredita que eles entrarão no conflito armado por algumas razões específicas.
Os Estados Unidos se vêem agora na cruzada e ameaça de a China se tornar seu maior inimigo e potencial sucessor no protagonismo da balança de poder do cenário internacional. Isso é inclusive um dos motivos pelos quais eles almejam reduzir drasticamente sua atuação no Oriente Médio, primeiro pelo fato de o petróleo deles estar aos poucos sendo substituído pelo Xistos que ainda não pode substituir definitivamente primeiro pela capacidade de produção e segundo pelo custo de produção de cada barril.
Movimento contrário para evitar essa evasão americana da região e para manter a dependência do mundo ao petróleo faz a Arábia Saudita que, detendo grande parte da produção de petróleo mundial, começa a manipular seu preço inundando o mercado com o produto, forçando então a diminuição do seu valor de comercialização. Com isso o custo e comercialização do petróleo cai vertiginosamente ao patamar atual de USD 50,00/barril em detrimento aos anteriores USD 110,00. O Xisto se torna então uma alternativa mais cara de matriz energética o que obriga os EUA a manter sua participação no Oriente e o consumo do petróleo de lá.
Estrategicamente a Arábia Saudita não quer que seu maior cliente deixe de ser seu parceiro também por razões politicas e militares. Sabe-se que o EI tem como objetivo ultimo do seu califado também chegar ao reino do Abdullah e se apoderar das suas infindáveis reservas petrolíferas.
A situação fica cada dia mais complicada para os americanos com várias frentes para atuar. No contexto atual eles estão comprometidos em várias frentes e isso pode se mostrar perigoso em ultima analise, pois insatisfações são observadas em várias frentes. Primeiro a latente ameaça chinesa à sua hegemonia histórica e também o fortalecimento econômico que eles chegaram. As brigas com a Rússia que já mostrou que não pretende voltar atrás e nem ceder nada dos seus planos nacionais e soberanos. A ameaça do terrorismo protagonizado principalmente pelo EI desafiando dia a dia o ocidente com seus atos de barbárie. Na América Latina a insatisfação bolivariana contra as políticas norte americanas para o hemisfério. Por ultimo a divulgação agora da espionagem americana contra sua parceira e sempre aliada França.
Nesse contexto os próprios aliados começam a temer se manter do seu lado. Embora os EUA são a maior potencia bélica mundial, o povo americano também não apoia mais as incursões militares do governo sem uma causa justificável dada sua catastrófica experiência com o governo Bush e os efeitos econômicos que isso trouxe.

Por fim, num cenário de crise mundial uma terceira guerra mundial poderia ser o anuncio do apocalipse com cada vez mais nações de posse de arsenal nuclear e milícias cada vez mais fortemente armadas quiçá até nuclearmente. É preciso repensar o respeito à soberania e especialmente a relação de parceria e o respeito às alianças para não enfraquece-las o que transferiria automaticamente a força para o outro lado ou os outros. O caos espreita a porta.


Fontes:

OPERA, Mundi. Rússia está praticamente em guerra com os países da EU, diz presidente da Lituânia. Disponível em http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/37663/russia+esta+praticamente+em+guerra+com+uniao+europeia+diz+presidente+da+lituania.shtml. Acesso em 20/06/2015.
OPERA Mundi. Rússia diz que prorrogação das sanções da União Europeia é chantagem inútil. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/40763/russia+diz+que+prorrogacao+das+sancoes+da+uniao+europeia+e+chantagem+inutil.shtml. Acesso em 19/06/2015.
ASSIS, J. Carlos de. A estratégia dos EUA para guerra contra a Rússia na Ucrãnia. Disponível em http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-estrategia-dos-EUA-para-a-guerra-contra-a-Russia-na-Ucrania/4/32522. Acesso em 15/06/2015.
PLON, Leneide Duarte. Embaixada americana de Paris, centro da espionagem. Disponível em http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Embaixada-americana-de-Paris-centro-da-espionagem/6/33838. Acesso em 23/06/2015.
GUITON, Amaelle, LECHENET, Alexandre, MANACH, Jean-Marc, ASSANGE, Julian. Wikileaks – Chirac, Sarkozy e Hollande: três presidentes sob escuta. Disponivel em http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/WikiLeaks-Chirac-Sarkozy-e-Hollande-tres-presidentes-sob-escuta/6/33831. Acesso em

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O contexto da Invasão do Iraque e sua influência na configuração atual do Oriente - Histórico (Em construção...)


O Iraque é um país situado no Oriente Médio, na antiga Mesopotâmia, que desde sua mais remota existência foi motivo de disputas e invasões dada sua privilegiada condição geográfica. Situado entre os rios Tigre e Eufrates, dispunha de terras muito férteis e, portanto alvo de desejo dos povos antigos. Essa condição fez com que o país se acostumasse e se mantivesse sempre em alerta para os possíveis ataques e invasões que eram bastante comuns. Sua população é composta por persas e sumérios e a partir do século 16 o Império Otomano domina a região até a primeira guerra mundial.
Dito isto, vamos situar as observações na segunda metade do século XX, o Iraque conseguiu estabelecer sua república de regime parlamentarista em 1958 após a segunda guerra mundial e esta se manteve até o golpe militar de 1979. O país se tornou o resultado da fragmentação do império otomano e por isso a população era fragmentada e praticava diferentes religiões e costumes, predominantemente árabe e curdo. A população iraquiana, posteriormente, vive uma realidade dividida entre grupos Xiitas que ocupam o governo de Saddam através do partido Baath, os Sunitas, grupo de pressão com relativo poder no governo, sendo esses declaradamente seus maiores opositores e ameaçadores da continuidade, e uma minoria curda sempre massacrada pelo governo. Essa situação de desequilíbrio interno do país era administrada com mão forte pelo ditador Saddam Hussein que, apesar do sofrimento que impunha a população, ou até em detrimento a ele, conseguia manter um mínimo de unidade nacional ou, pelo menos, oprimia e sufocava toda a tentativa de insurgência ou de desestabilização do seu poder.
Entretanto, o objetivo do Líder Ditador iam muito além de manter o seu país sem conflitos internos e a sua manutenção no poder. Algumas fontes afirmam e, o próprio governo mostrava-se interessado em criar a Grande Arábia, região ou país que supostamente viveria sob a liderança ou o governo direto de Saddam Hussein e seguiria seus objetivos expansionistas para o total ou majoritário controle das impensáveis reservas de petróleo mundial.
Ora, o petróleo já havia se tornado a maior matriz energética mundial e condição fundamental para a continuidade do desenvolvimento econômico do Ocidente, fato esse que evidenciava que o Ocidente não assistiria impassíveis as conquistas do seu antigo aliado na região. Mas Saddam Hussein não conseguiu fazer essa leitura do cenário que ele mesmo estava criando na região. Baseado no apoio americano anterior na sua guerra contra o Irã, ele pensava que este aliado se manteria neutro nos acontecimentos ou que novamente o apoiaria nesta nova empreitada.
É fato que o Irã sempre foi um contrapositor da política americana e durante o período da Guerra Fria, foi apoiado econômica e militarmente pela URSS. Esse por si só já era motivo suficiente para fazer dos EUA inimigos naturais. Aliado a isso o fato de o Irã fazer parte da região considerada o coração energético do mundo e, por ser um dos quatro países que detinham as maiores reservas de petróleo do mundo, certamente o Ocidente não assistiria seus fornecedores originais de óleo manipularem monopolicamente essas reservas. Por isso então se justifica o apoio ao Iraque contra o Irã na sua guerra de 1980 – 1988.
Durante o período da guerra entre esses dois países o Iraque recebeu dos americanos apoio bélico e econômico o que possibilitou a compra de armas e de tecnologia suficiente para fazer deles a maior potência bélica da região e os EUA também sabiam disso. Entretanto, o país não intentava mais da região do que garantir o fornecimento da sua matriz energética mais importante e, portanto, garantir seu desenvolvimento econômico além de evitar que um único Estado detivesse maioria ou hegemonia no controle das fontes de produção do Ouro negro. Assim sendo, os objetivos militares de Saddam Hussein ameaçavam os planos pós Guerra Fria dos EUA para a região.
Como visto, o principal produto do país é o petróleo do qual sua economia é umbilicalmente dependente, além da produção da tâmara. Exatamente pelo fato de o país possuir grandes reservas do petróleo o país passou a ser estrategicamente importante para o mundo e razão de boa parte dos seus problemas.
(Após o massacre dos judeus por Hitler, um Estado Judeu foi criado na região, a saber, Israel, e isso ocasionou ainda mais instabilidade na região).
Saddam Hussein, seu presidente desde o golpe de 79 acumulou também a posição de Primeiro Ministro pela maior parte do seu governo que se estendeu até 2003 quando foi retirado do poder e passou por um julgamento que o condenou a morte por enforcamento. O seu governo foi marcadamente autoritário e composto basicamente pela minoria sunita. Saddam conseguiu se manter no poder por estratégias militares e mão forte. Esmagou grupos menores que queriam derrubá-lo do poder e foi beneficiado com o aumento rápido da economia. Esse aumento foi possível em detrimento, dentre outras coisas, a nacionalização do petróleo e das indústrias do setor. No cenário internacional Saddam Hussein conseguiu chegar ao poder graças ao apoio do ocidente destacando-se os EUA que tinham interesse direto na região devido ao seu alto potencial de produção do petróleo. Num cenário de guerra fria onde o mundo estava divido bipolarmente, o apoio dos EUA ao Iraque na sua guerra contra o Irã determinou a vitória a esse país.
O interesse dos EUA, além do óleo, estava também na destruição de mais um foco de expansão do comu8nismo e de sua zona de influência no Oriente Médio. Essa vitória ampliou os planos do ditador que a partir de então decide invadir o Kwait para anexá-lo. O calcanhar de Aquiles da situação foi o fato de a invasão ao Kwait ser motivada por uma suposta venda sub valorizada do petróleo o que para Saddam prejudicava os negócios do seu país. Após consulta aos antigos aliados e, dada sua esponta denotando indiferença com os destinos daquele país, Saddam acredita mais ainda que pode invadir o Kwait sem maiores consequências. Ele invade o Kwait e em pouco tempo devasta o país e o toma. Além disso, com ambições continentais, Saddam intenta invadir a Arábia Saudita e posiciona seus mísseis voltados a aquele país. Se fosse levado a cabo o seu plano, Saddam montaria uma grande Arábia sob seu comando, que seria detentora da maior reserva de petróleo do mundo e o poder que isso lhe possibilitaria, poderia gerar consequências futuras inestimáveis.
Entretanto, o Ocidente tinha interesse em manter o petróleo a preços mais baixos dada a sua dependência deste e, ainda não esqueceu os efeitos do choque do petróleo de 1973 e suas consequências nas economias mundiais além dos efeitos perenes no aumento no ´preço do barril de petróleo até hoje. Por isso o s EUA não mantiveram seu poio ao Iraque nesta “guerra de conquista”, ao contrário, montou uma coalizão de apoio ao Kwait e retomou o país devastado devolvendo-o ao seu povo. Saddam então assina sua rendição e o Iraque é obrigado a, além de renunciar o Kwait, pagar por todos os custos da guerra e indenizar o país vizinho bem como os demais envolvidos na guerra sob o argumento de ser o responsável pelos prejuízos adquiridos por ela e os impactos que isso causou em suas economias. Isso porém causa um desastre na economia iraquiana que não consegue mais se reestabelecer durante longos anos. A população mais uma vez é a maior prejudicada pelos planos de Saddam e arca com a pior parte de sua derrota no dia a dia.
Após isso, os EUA criam uma série de ferramentas na região para garantir que nenhum outro governante daquela região intente o mesmo, o controle total ou majoritário da região e de suas reservas infindáveis de petróleo o que pode significar a subida no preço do já tão necessário óleo. É entretanto, limitado falar dessa invasão considerando apenas o petróleo como único fator que motivou a invasão. Sabe-se que outros fatores estão envolvidos embora seja arriscado delimitar com segurança quais seriam eles. Especulações dão conta de que além dos interesse do governo americano nas reservas de petróleo da região, as grandes companhias petrolíferas têm interesse tanto em atuar naquele país quanto em manter os preços competitivos. Especula-se também que a indústria bélica americana estava carente de novos mercados e de consumidores para os seus produtos e só mesmo uma guerra conseguiria.

Além disso, no campo político não é interessante para os EUA perderem seu posto de única superpotência mundial alcançado desde o final da Guerra Fria e a dissolução do bloco soviético. Logo, seria facilmente presumível que a “patrulha Global” não assistiria impassível a formação de uma nova potência detentora de tantas reservas de petróleo a ponto de transformá-la numa potência igual ou superior aos EUA. Entretanto, apenas o interesse do governo americano e o das empresas privadas não eram motivos, ou não produziam argumentos suficientemente plausíveis para justificar uma invasão muito menos convenceria cabalmente a opinião pública americana fazendo-os apoiarem e financiarem esta invasão. Algumas manobras então começam a ser feitas pelo governo no sentido de convencer a opinião pública americana e também mundial. Vejamos:

domingo, 20 de outubro de 2013

Ensaio sobre algumas iniciativas de integração Regional na América do Sul.

O processo de integração da América do Sul toma corpo após década de 90 com o fracasso da integração latino americana através do ALCA. Ficou provado que as políticas neo-liberais que os EUA tentavam impor ao continente não funcionariam em benefício dos países menos desenvolvidos. Os governos da época ainda eram fracos politicamente e não tinham força para barganhar benefícios sob qualquer acordo com os EUA. A dinâmica dos acordos bilaterais e mesmo a formação de blocos se dava da maneira de que os EUA impunham e os países Latinos aceitavam. Eles não abriam mão das suas barreiras e proteções de modo que pouco se obtinha de ganho para os países menos desenvolvidos. O resultado desse processo foi o aumento da concentração de renda nos países ricos e também ficou marcado o aumento da pobreza dos países que já eram pobres. Elevados índices de analfabetismo e sub desenvolvimento foram também observados nesse período. Com isso a população do Sul já não mais suportaria impassível esses acontecimentos de maneira que uma série de manifestações se fizeram presentes após esse período levando alguns presidentes à renúncia e a não reeleição. Basicamente, presidentes muito alinhados com as políticas norte-americanas não conseguiram se manter no poder e uma tendência nacional-esquerdista marcou então a América do Sul. Além disso, a crise econômica enfrentada pelos EUA na década de 2000 estimulou os países do eixo sul a buscarem novos parceiros, principalmente comerciais, para minimizar a sua dependência dos EUA. Foi o caso do Brasil, Argentina, Venezuela, dentre outros. No seio da América do Sul, a derrocada da ALCA fortaleceu a idéia do Mercosul e mostrou para estes países que outras alternativas de parcerias eram possíveis e até proveitosas para os países em desenvolvimento. O Brasil pode ser encarado como uma referência nessa diversificação de parceiros e fortalecimento de sua economia no período sem necessariamente depender dos EUA. Além disso é possível observar após a década de 90 o fortalecimento de outras formas de integração regional que não incluem os EUA e que foram firmadas algumas apenas entre países do eixo Sul e outras incluindo países da América Latina. Iniciativas como a Unasul, Mercosul, Calc, Celac dentre outras mostram o fortalecimento continental sem a presença dos EUA efetivamente atuando. Conforme abordado na apresentação cada um desses acordos ou organizações continentais foram constituídas com propósitos diferentes e em alguns casos envolvendo os mesmos países em momentos diferentes. Para entender melhor esse processo de integração regional, podemos ver algumas das iniciativas isoladamente. Inicialmente o CALC, Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento foi a primeira iniciativa de integração regional desde meados do século XX na América Latina. Esta iniciativa partiu do governo brasileiro ao convocar esta cúpula e sediá-la em território nacional, a saber, Costa do Sauípe, Bahia. O objetivo desta cúpula era estabelecer uma agenda comum aos Estados baseados na identificação de problemas comuns que poderiam ser tratados de maneira conjunta e beneficiar a todos. A CALC não se constituiu uma organização internacional nem se propôs a isso. O objetivo dessa iniciativa era de discutir de maneira conjunta e regional os problemas em comum do continente e fortalecer o diálogo entre esses países e posteriormente reforçar a integração regional a partir de outras iniciativas como veremos adiante. Trinta e três países fizeram parte desta cúpula e ao final elaboraram a Declaração Salvador que posteriormente se tornou um instrumento incorporado na fundação de outra iniciativa de integração regional, com objetivos institucionais, que é o CELAC como veremos adiante. O tema central da CALC foi a integração e desenvolvimento sustentável e os Chefes de Estado destacaram a importância da integração regional, cooperação, desenvolvimento sustentável, erradicação da pobreza, promoção da justiça social e fortalecimento da democracia. Outros assuntos também se fizeram presentes nessa reunião como as Ilhas Malvinas, o bloqueio econômico de Cuba, dentre outros. A Unasul, União das Nações Sul Americanas é uma organização internacional formada por doze países, Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Uruguai, Suriname e Venezuela que tem por objetivo construir um espaço de articulação entre os Estados nos assuntos políticos, sociais econômicos e culturais no continente. Essa organização é inaugurada pelo Tratado de 23 de maio de 2008 fruto da Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e Governo e entra em funcionamento efetivamente em 11 de março de 2011 após conseguir as 11 ratificações, mínimo necessário para entrar em vigor. A estrutura da Unasul é dividida da seguinte maneira: Conselho de Chefes de Estado e Governos, Conselho de Ministros das Relações Exteriores, Conselho de Delegados e Secretária Geral. De maneira resumida, é possível falar que a Unasul tem por prioridade atuar em assuntos estratégicos do continente para fortalecer as conquistas alcançadas, desenvolvimento, erradicar a pobreza, reforçar o respeito aos direitos humanos e eliminar armas nucleares e de destruição em massa, intensificar a integração regional, baseando no respeito da soberania dos Estados, a pluriculturalidade e de idiomas do continente, a representatividade continental e também nos ganhos já alcançados por outros mecanismos e iniciativas já consolidadas como o Mercosul. Esses príncipios estão colocados no Tratado constitutivo do bloco. É interessante notar que até mesmo em assuntos de defesa a Unasul tem uma atuação bem forte e, na promoção da transparência entre os Estados. Além disso, avanços significativos já foram logrados na área da saúde com a criação da ISAGS, que é o Instituto Sul-Americano de Governança em Saúde que tem sua sede no Rio de Janeiro e que tem por objetivo apoiar os países sulamericanos no fortalecimento dos seus sistemas de saúde e o desenvolvimento adequado dos recursos humanos, gerenciando os conhecimentos já existentes e produzindo os que ainda se fazem necessários. Por fim é possível também acompanhar algumas das decisões da Unasul e os protocolos já gerados dessas reuniões que reafirmam princípios de fortalecimento da Democracia, transparência e confiança entre os Estados Membros. A Celac, Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos, foi criada em fevereiro de 2010 através da Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe realizada na Riviera Maya no Mèxico. A Celac é fruto das CALC's já realizadas e foi idealizada a partir da II CALC em 2009 e prevista para incorporar os trabalhos da III CALC realizada em 2011. A Celac absorveu os trabalhos do Grupo do Rio(1986) e das CALC's para sua constituição abrangendo assim a concentração política proposta por um e a integração e desenvolvimento pela outra iniciativa. Esta talvez seja a razão que explique o fato de inúmeros documentos da CELAC fazerem alusão ou mencionarem diretamente essas iniciativas anteriores. O principal fator de integração regional fruto da CELAC é o fato de ela estabelecer, ou manter, linhas de diálogo político entre seus membros, herdadas do Grupo do Rio, que fortalece a concentração política do continente e revela-se um forte instrumento de fortalecimento da confiança entre os Estados e de promoção da democracia de uma maneira geral. No que diz respeito aos projetos de desenvolvimento, ações específicas estão sendo tomadas e projetos específicos são levados a frente de acordo com as comissões e comitês criados. Para este caso específico da CELAC ainda não se pode encontrar muitas decisões ou ações efetivas que foram adotadas no âmbito do desenvolvimento integrado devido à fase inicial da organização. Fundada especificamente em 2011, esta organização ainda se mostra em fase de estruturação institucional e suas reuniões ainda não avançaram muito em relação aos projetos na área do desenvolvimento regional ficando apenas as decisões dos seus predecessores CALC e Grupo Rio nas suas matérias específicas. Sob uma perspectiva estritamente pessoal a CELAC muito se assemelha à Unasul na sua proposta de integração diferenciando-se basicamente pela atuação nas áreas de defesa que inicialmente não está prevista na formação da CELAC. Além disso a criação de uma identidade política supra nacional no continente, como ulteriormente prevê a CELAC é um proposito que não se mostra explicito no caso da Unasul, se o existe. Um outro componente muito forte da integração regional da América do Sul é o Mercosul. A ideia de unificação regional de mercado nasce com o Tratado de Assunção em 1991 após uma reunião de cúpula entre chefes de Estado e sua assinatura. Em dezembro de 94 ele entra em funcionamento efetivo com a ratificação dos Estados-Parte e com a aprovação do Protocolo de Ouro Preto que institucionaliza o Mercosul lhe conferindo personalidade jurídica internacional. Esse instrumento de integração tem objetivos específicos previamente definidos e atua especificamente nessas áreas que são a integração regional para o livre circulação de bens e serviços entre os Estados-Parte, o estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum (TEF), o estabelecimento de uma política externa comum, a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais e a harmonização das legislações nas áreas pertinentes. Inicialmente o Mercosul contava com quatro Estados-Parte, a saber, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai e em 2012 aconteceu a sua primeira ampliação com a inclusão da Venezuela ao bloco. É digno de nota porém que, o processo de adesão da Venezuela ao bloco se deu em meio a uma situação bastante conturbada pois todos os membros possuem igual peso e direito a um voto cada. As decisões no Mercosul são tomadas a partir da unanimidade e, com a recusa histórica do Paraguai em aceitar a Venezuela, o processo de integração desta demorou muito a acontecer vindo a se findar somente em 2012 em detrimento a suspensão do Paraguai do bloco. O fato a destacar aqui, em meio a esta relação não tão coesa dos Estados-Parte em relação a certos assuntos, é que o Tratado de Assunção permite a negociação do bloco com países membros da ALADI e uma consequente entrada de algum desses países no bloco. Além disso, o Mercosul também tem uma relação com os chamados Estados Associados que podem usufruir de benefícios em negociar do bloco mas a principal diferença com os demais é o fato de não exercerem o voto. O próximo Estado Associado que está em processo de adesão é a Bolívia. Como processo de aperfeiçoamento dessa iniciativa de integração algumas reuniões e decisões já foram tomadas originando órgãos diversos ma estrutura do bloco. Por exemplo o Sistema de Pagamento em Moedas Locais que já funciona entre Brasil e Argentina, o FOCEM (Fundo para Convergência Estrutural), o Fundo do Mercorul de garantia para micros e pequenas empresas. Além disso em 2002 foi aprovado o Protocolo de Olivos que é um instrumento de solução de controvérsias que cria o Tribunal Permanente de Revisão que tem a obrigação de garantir a correta interpretação e cumprimento das normas do bloco. Em 2006 é constituído o Parlamento do Mercosul que garante transparência e representatividade ao processo de integração. No campo social é criado o Instituto Social do Mercosul e a Coordenação de Ministros de Assuntos Sociais do Mercosul. Nesse caso esses órgãos atuam na área de ciência, educação, tecnologia, inovação e capacitação. Como mencionado anteriormente o sucesso do Mercosul ficou mais evidente com a derrocada da ALCA. Este bloco foi fortalecido também pela ascensão de governos com ideologias centro esquerdistas que muito criticavam o modelo de política neo-liberal que marcou a década de 90. É válido afirmar também que na prática as decisões do Mercosul são mais efetivas e mais aparentes para os olhos da população de um modo geral. O Mercosul também leva em consideração o fato de que a integração regional lhe confere um maior poder no cenário internacional de o insere definitivamente nesse cenário em condições mais propícias para negociação do que se os países o fizessem individualmente. Os Estados sul americanos perceberam que unidos em um bloco o seu poder de barganha aumenta bastante e lhe permite negociar de maneira mais igual. Isso pode ser observado explicitamente no Artigo I do Tratado de Assunção. Um fator muito importante para o sucesso do bloco é o fato de se ter sido reconhecidas as diferenças entre os Estados-Parte e lhes serem permitidos alguns privilégios adicionais, ou prazos diferentes para o cumprimento de algumas exigências acordadas, para que pudessem se integrar de maneira menos injusta e que também tivesse a oportunidade de adequar seu mercado interno, legislações e etc de modo a se adequar aos padrões do Mercosul. Isso principalmente beneficiou o Paraguai e o Uruguai que não possuem as mesmas condições de concorrência de Brasil ou Argentina. Atualmente o Mercosul tem se consolidado como importante organismo de integração regional para o comercio intra-zona mas também como um ator internacional dotado de personalidade jurídica e poder de assinar tratados com outros blocos ou países. Nunca antes na história a América do Sul ou mesmo a América Latina estiveram tão integrados como agora. A ALADI por fim o maior mecanismo de integração da América Latina e conta atualmente com 13 países membros que juntos totalizam mais de 20 milhões de quilômetros quadrados e uma população de mais de 500 milhões de habitantes. O instrumento constitutivo dessa organização é o Tratado de Montevidéu assinado em 1980, que é aberto a qualquer país latino americano e que prevê o pluralismo em matéria política e econômica, convergência progressiva de ações parciais para a criação de um mercado comum latino-americano, flexibilidade, tratamentos diferenciais com base no nível de desenvolvimento dos países-membros e multiplicidade nas formas de concertação de instrumentos comerciais. A ALADI promove a criação de uma área de preferência econômica na região através de alguns mecanismos como a preferência tarifária regional, acordos de alcance regional e acordos de alcance parcial. O último país a aderir a ALADI foi a República do Panamá em 10 de maio de 2012 e o próximo país que provavelmente entrará e que já está se adequando sua adesão é a Republica da Nicarágua. Por fim, com base em tudo o exposto, é possível concluir que o processo de integração das Américas Latina e do Sul é um fato que já está em curso desde meados do século XX e que tem se fortalecido constantemente através de diferentes iniciativas, na prática umas mais efetivas que outras. Especialmente após a década de 90, essa integração ganhou um pulso a mais em detrimento às consequências, ou os efeitos da globalização como colocada, que só piorou a situação da maioria dos países sub desenvolvidos e, em alguns caso, piorou em muito. A negociação intra blocos se torna cada vez mais fácil devido a minimização das diferenças culturais e pela percepção de que muitas dificuldades são comuns a vários países e que juntos podem combatê-las mais eficazmente. Além é claro que especialmente para assuntos comerciais, em bloco fica muito menos desigual a negociação com outros blocos econômicos e muito menos submissa a relação política com os países desenvolvidos.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Breve ensaio sobre a democratização do Oriente Médio como possibilidade. By Vitor Santos.

A sequência de eventos denominada primavera árabe evidencia explicitamente a não mais aceitação do povo árabe à regimes autoritários e opressores, porém isso não necessariamente implica na construção de uma democracia genuína nesses países devido à fatores estruturais daquelas sociedades.
Inicialmente o motivo pelo qual os eventos começaram não foi exatamente um apelo à democratização e sim, um grito de desabafo de um povo que não mais suporta as arbitrariedades, injustiças e corrupções do modelo de governo vigente até o momento e conseguiram se articular para mostrar essa insatisfação. Embora os ditadores tenham ainda tentado se opor e sufocar os levantes usando todos os artifícios que lhes fossem convenientes incluindo violência e armamento pesado, a força da manifestação popular, respaldada ainda no apoio da opinião pública do cenário mundial convencida pelas denúncias veiculadas principalmente na internet, conseguiram vitórias importantes nesses países o que pode indicar uma mudança de cenário no mundo árabe. Os novos governos pós-primavera deverão se adequar à nova demanda social que não mais aceita o autoritarismo militar como forma de dominação ainda que este use a bandeira da religião como amparo de justificação das suas ações. O que se vê agora é que os líderes temporários estão cada vez mais cautelosos nas suas decisões para não incidirem em comportamentos parecidos com seus antecessores autoritários.
Essa luta por participação popular nas decisões, de garantia de diretos básicos comum a todos, bem como o pleito de eleições diretas dos governantes não caracteriza necessariamente a busca pela democratização desses países e há razões para se crer nisso. Inicialmente pelo fato de que estes países nunca tiveram uma experiência democrática para usar como referência. Segundo que os valores religiosos sempre foram os sentimentos comuns mais fortes que os unia e foi esta mesma religião que foi usada como pano de fundo para manutenção do poder nas mãos de uma minoria rica e opressora. A religião, portanto, sempre os conduziu à submissão cega e omissa dos ditames dos seus líderes. O regime democrático, por outro lado, é uma criação do Ocidente o que, por si só, já desperta prévia rejeição da maioria fundamentalista além do fato de que a Democracia para o ocidente engendra em si uma série de conceitos e valores não compartilhados pelo povo do Oriente Médio como, por exemplo, a ideia dos direitos humanos, a igualdade de todos perante a lei independente de sexo, religião, raça etc.
O advento das redes sociais contribuiu fortemente para a organização e inicio das manifestações e isso mostra que, embora historicamente o mundo árabe fosse sempre regido por esses poucos detentores do poder, a população finalmente encontrou um meio por onde se expressar e se organizar. Um meio no qual as autoridades não têm tanto poder, ou não são tão eficientes na tentativa de sufocar essa comunicação. Outro fator que evidencia que a democratização não era inicialmente o objetivo a se alcançar no inicio das manifestações é o fato de que nesses países, quando os manifestantes conseguiram derrubar o poder constituído, como nos casos do Egito, Libia e Tunísia, um projeto de sucessão de regime não havia sido elaborado muito menos definido quem ocuparia esse poder. Um regime provisório então se fez necessário para garantir a transição menos sofrível para o povo de um poder para o outro. O fato é que, eles começam a definir o que não querem mais para si em termos de governo, porém isso não significa que a democracia seja sua escolha daqui pra frente, até porque vale considerar que primeiramente eles precisariam aprender sobre essa forma de governo e concordar com as suas características básicas, ainda que as adaptassem à sua realidade.
O mundo ocidental, pré-cursor da Democracia deve então contribuir para que essa nova realidade se consolide e impeça que os regimes totalitários religiosos voltem a se estabelecerem no mundo árabe. Pode-se começar por negociar a partir da apresentação de propostas de como um país pode transigir de um regime para o outro. A ONU como representante oficial dos Estados no mundo poderia assessorar essa transição. O Ocidente já interviu em alguns desses conflitos mostrando que não está alheio aos acontecimentos daquela região e também o seu posicionamento em relação a isso. É necessário então dar suporte às novas propostas de governo que acentuem os valores democráticos e garanta o direito das pessoas daquele lugar. Esse é um dos caminhos para ampliar o alcance dos valores consagrados na carta dos direitos humanos universais e uma contribuição importante na minimização do uso da força como instrumento de resolução de conflitos, haja vista poder se observar na história que nunca um país democrático guerreou com outro com o mesmo tipo de regime. O primeiro e sofrido passo já foi dado, a continuação da caminhada depende não só do povo árabe, mas também do eco que o resto do mundo emitirá de volta a eles.