-
Vitor Santos
Poderíamos
começar por enumerar as razões pelas quais sentimos falta da rotina
ou do cotidiano "normal". Poderíamos também indicar razões pelas quais
sentimos falta da correria sobre a qual sempre reclamamos bastante.
Poderíamos ainda dizer o quanto é diferente essa realidade súbita
que se nos foi imposta. Razões não faltam a ninguém pra dizer
porque esse confinamento afetou o dia-a-dia de todos e do que mais
sentimos falta se comparado ao que vivíamos antes. Esse esboço,
antes de se propor estabelecer verdades, se propõe trazer um
pensamento, uma reflexão ou uma nova maneira de se ver o momento. Vamos então começar com as provocações para tentar produzir ou encontrar novas maneiras de interpretar a realidade circundante, já que tempo, não é exatamente o que está faltando!
Um
mundo acelerado, uma rotina conturbada, o tempo nunca suficiente. O
que podemos usar como lição ou interpretação para esse momento? O
que pode nos ensinar uma tão severa e cruel pandemia? Já se perguntou se algum dia, ou imaginou, que fosse viver para ver o mundo que você conheceu, como lhe fora apresentado, "semi parado" assim? Bem, respostas concretas e cabais à
essas perguntas não dá para estabelecer devido à subjetividade do
que a vida em sociedade impõe à cada família, individuo, cultura, visão de mundo e ideologia, e, que a normatização
eventual ou catedrática, não abrangeria. Um primeiro caminho possível
de tratar é: “Só mesmo uma pandemia para conseguir desacelerar o mundo
e, por conseguinte, nos obrigar, ao menos aos que se propõem refletir esses assuntos, ressignificar as relações humanas. Cada um no seu tempo e momento
evolutivo, compreende, à sua maneira, o que está havendo. Alguns de
maneira mais prática e imediatista, outros de maneira mais
filosófica e perene, além de tantos outros caminhos interpretativos possíveis. O fato é que todos foram repentinamente empurrados para dentro
das suas casas (quem às têm) , sob a ameaça imperativa de "não continuar", em caso de oposição à essa demanda. O “E,se…” nunca
se mostrou tão imperativo à todos, enquanto comunidade. Tentamos
sempre dominar o que está à nossa volta afim de direcionar
para o que consideramos aceitável ou razoável, ou mesmo o que desejamos. E agora?
Vale
mencionar brevemente que, não é a primeira vez que a humanidade
enfrenta situações de pandemia e de outras calamidades em contextos
gerais. Para ilustrar ou rememorar, vide a Peste Negra, que, segundo
estudos, durou bem mais que o período pré e pós pico. Estudos
postulam que seus efeitos foram sentidos até começo e meados do Sec
XV. O fato é que naquele contexto, a situação de fragilidade
social e
desagregação, potencializou esses referidos efeitos nefastos da pandemia e, efetivamente, o viés humano e social passou a ser uma das principais
ferramentas para interpretar o momento e propor saídas. O período
da Gripe Espanhola também se mostrou trágico, e mais uma
similaridade foi observada na expansão do problema, a qual também
hoje ajudou a alastrar o SARS-Cov-2,
que é a vida em sociedade. Para isso leia-se a locomoção e
interação entre as pessoas como sendo o principal agente dissipador do invisível vírus. Existe motivo ou lógica que se
entrelace e que nos permita entender de maneira mais contundente ou
determinante o fato que, de tempos em tempos, a humanidade enfrente situações epidêmicas ou pandêmicas? Responder à essa questão, ou mesmo abordar algo como sendo comum entre essas situações pode se carcterizar mesmo como uma missão hecúlea para a qual, receio não termos um Hécules. Isso sem entrar nas
devastações que todas as guerras históricas já produziram. Realmente é uma tarefa não muito simples, mas não nos impede de buscar caminhos alternativos para relativizar a interpretação e, quiçá, aprendermos algo com ela, ainda que fragmentado, duma realidade tão avassaladora. Ainda bem que o caminho aqui proposto é reflexivo e não impositivo, a dúvida, antes que a verdade absoluta e imposta... o questionamento como forma de evolução e produção intelectual.... Filosofia? rs.
Doravante, algumas
possibilidades
interpretativas podem ser levadas em consideração e aventadas como razões pelas quais chegamos a esse ponto, dentre as quais,
a famosa teoria da conspiração, nesse
exato exercício humano de
encontrar razões para explicar o que se lhe apresenta. Para
além de reforçar ou descredibilizar essa sedutiva linha de
pensamento, escolho direcionar por outros caminhos mais reflexivos e edificantes,
antes que polêmicos, à saber: já parou
pra pensar o quanto há muito não olhávamos para o quanto todos
dependem de todos?
Desde que, na teoria, aceitamos o “Contrato Social" do Thomas
Hobbes, alienamos parte da plenitude do “ser natural”
para que a vida fosse possível entre nós, tornando-nos
“seres sociais” – O homem
é o lobo do homem e, portanto, precisa do Estado para regular as
interações entre eles na vida em sociedade”. Isso fatalmente nos põe em contato com o outro e nos "imbui" estabelecermos relações supostamente civlizadas, sujeitos à uma autoridade maior que regula essas relações através dos seus mecanismos característicos. E o Estado de
Natureza? Será que não é exatamente esse retorno que estamos vendo
de maneira reduzida ou em menor
proporção? A defesa da vida e, com isso, dentre outras coisas, a necessidade de garantia dos seus víveres volta a ser a prioridade individual, após tanto tempo sem isso ser tido, ou reconhecido, como centro delas.
Ainda no contexto das relações sociais, pense: quando foi a última vez que olhamos para os mais frágeis, mais vulneráveis, sobretudo, os mais velhos, sem nos irritar com os passos mais lentos ou com a demora maior num atendimento bancário ou de supermercado, em detrimento exatamente à sua condição de fragilidade física, se comparados aos menos avançados em anos? A proposta com esse pensamento é exatamente mostrar a necessidade de ressignificação das interações humanas pelas quais passamos por cima todos os dias, porque, não há tempo! O boleto não deixa, a mensalidade não atrasa chegar, o ônibus passa, o trem também. Mas você já aproveitou esse momento, no seu efeito colateral, e olhou para o quanto estamos tendo que aprendender a reviver, ressignificar, reencontrar, redescobrir? Para além de que isso não seja uma tentativa de estabelecer lado bom em uma pandemia, mas tão somente um efeito colateral dela. Uma família sempre esteve ali, sempre precisou de atenção, afeto, sempre apoiou e se orgulhou de tudo o que você representa. Quantas vezes pensou no que representa para os seus? Mas, tínhamos tempo de observar isso? A professora das crianças sempre pediu um pouco do seu tempo para dividir a tarefa da educação, nem sempre fácil, que esses pequenos nos impõem. O enfermeiro, antes que o médico, em igual importância, a pessoa que limpa o leito e o quarto para receber o próximo coitado doente, e assim, tentando evitar novas doenças e contaminações, o caixa do supermercado que preciisa estar ali, o repositor, senão, quem come, quem trata, quem limpa, quem educa? Viu um pouco do outro lado? E o que vamos aprender disso? Costumo mesmo falar em alguns papos mais acadêmicos e filosóficos, que foi necessário uma pandemia para o ser humano entender que ele não é uma ilha, não vive no mundo só com a sua família ou com os seus anseios e ambições, e que existem pessoas ao redor que podem servir de inspirações, exemplos e aprendizados também para si. Dessas lições eu gosto de olhar alguns exemplos de como as pessoas se solidarizaram mais com o outro, mesmo com a manutenção da distância física ou com medidas de precaução. Isso também é solidarização, já que o vírus não escreve na testa de ninguém onde ele está.
Ainda no contexto das relações sociais, pense: quando foi a última vez que olhamos para os mais frágeis, mais vulneráveis, sobretudo, os mais velhos, sem nos irritar com os passos mais lentos ou com a demora maior num atendimento bancário ou de supermercado, em detrimento exatamente à sua condição de fragilidade física, se comparados aos menos avançados em anos? A proposta com esse pensamento é exatamente mostrar a necessidade de ressignificação das interações humanas pelas quais passamos por cima todos os dias, porque, não há tempo! O boleto não deixa, a mensalidade não atrasa chegar, o ônibus passa, o trem também. Mas você já aproveitou esse momento, no seu efeito colateral, e olhou para o quanto estamos tendo que aprendender a reviver, ressignificar, reencontrar, redescobrir? Para além de que isso não seja uma tentativa de estabelecer lado bom em uma pandemia, mas tão somente um efeito colateral dela. Uma família sempre esteve ali, sempre precisou de atenção, afeto, sempre apoiou e se orgulhou de tudo o que você representa. Quantas vezes pensou no que representa para os seus? Mas, tínhamos tempo de observar isso? A professora das crianças sempre pediu um pouco do seu tempo para dividir a tarefa da educação, nem sempre fácil, que esses pequenos nos impõem. O enfermeiro, antes que o médico, em igual importância, a pessoa que limpa o leito e o quarto para receber o próximo coitado doente, e assim, tentando evitar novas doenças e contaminações, o caixa do supermercado que preciisa estar ali, o repositor, senão, quem come, quem trata, quem limpa, quem educa? Viu um pouco do outro lado? E o que vamos aprender disso? Costumo mesmo falar em alguns papos mais acadêmicos e filosóficos, que foi necessário uma pandemia para o ser humano entender que ele não é uma ilha, não vive no mundo só com a sua família ou com os seus anseios e ambições, e que existem pessoas ao redor que podem servir de inspirações, exemplos e aprendizados também para si. Dessas lições eu gosto de olhar alguns exemplos de como as pessoas se solidarizaram mais com o outro, mesmo com a manutenção da distância física ou com medidas de precaução. Isso também é solidarização, já que o vírus não escreve na testa de ninguém onde ele está.
Uma
outra perspectiva a ser abordada é o fato de que o planeta tem
mostrado o quanto ele precisava respirar e não estávamos
enxergando. Essa correria nos cega não é mesmo? Mas já parou pra
pensar que também foi um alívio se focarmos nesse aspecto? Novamente o objetivo não é destacar "um lado bom" de pandemia pois este efetivamente não existe, e sim, enfatizar um efeito colateral dela que pode ser fonte de aprendizado e ressignificação. Os bens de consumo supérfluos estão, em sua
maioria, muito menos
valorizados neste momento. Apenas as necessidades básicas estão
sendo priorizadas durante este período, o que, historicamente, já foi um dia a única prioridade
do ser humano. Quem sabe um vírus teve o poder sobre-humano de nos
tornar novamente “humanos”? Só mesmo escolhendo fechar os olhos
para não enxergar a lição que, novamente, como efeito colateral, esta
pandemia nos trouxe. E, para fechar de maneira bem superficial, trago mais uma pergunta: “Como você vai voltar ao "normal" após esse momento, se voltarmos? Como será o novo "normal"? Como fará o seu dia-a-dia mais humano depois dessa fase que a
todos afetou e privou?” Se em algum momento isso vai te mostrar que
“a moda passa, a malha esgarça, acaba a graça e a novidade…. O
tempo corre, a rosa morre… nem tudo funciona de verdade…” e que
nós também passaremos, mas, se não fizermos uma bela passagem por
este plano, nem mesmo os sacrifícios já consumados até aqui, farão sentido.
As
vidas humanas importam, algumas muitas já foram perdidas, outras estão ali se
arriscando para exatamente tentar
a continuação dela. Permita
que a sua continuidade seja melhor após esse aprendizado que não
sabemos até quando durará. Se um ou dois aprenderem, podemos tentar
influenciar o outro a também aprender a olhar para o lado e ver um
semelhante ali, um irmão. Tudo pode ser uma oportunidade de
aprendizado. Suba na mesa que verá que nem todos os ângulos estavam
sendo abrangidos pela visão que sempre trouxemos conosco, ou aprender uma nova forma de ver a mesma coisa. Esta,
pode ser uma boa oportunidade de aprendermos “sem ser ensinados”.
Ouvir “o que não está
verbalizado”. Quando pensar que conhece demais uma situação,
“suba na mesa”. Que o além-humano seja um refúgio
de alguma maneira e um alento para o porvir. Não desperdice sua
chance de apender e melhorar enquanto ainda lhe é dado tempo.
Referências:
“A legislação Econômica e Social Consecutiva à Peste Negra de
1348 e Sua Significação No Contexto Da Depressão Do Fim Da Idade
Média (I)” – Victor Deodato da Silva – Departamento de
História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo.
"Nem tudo funciona de verdade" (Poesia musicada) - Daniela Mercury
"Sociedade dos Poetas Mortos" (Filme) - Peter Weir (Diretor), Tom Schulman (Roteiro).
"Nem tudo funciona de verdade" (Poesia musicada) - Daniela Mercury
"Sociedade dos Poetas Mortos" (Filme) - Peter Weir (Diretor), Tom Schulman (Roteiro).