quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Um ensaio sobre o poder social - by Vitor Santos

O poder sempre foi um mecanismo muito poderoso de sedução humana. A busca dele sempre marcou a história da humanidade. Embora historicamente só se leva em consideração as disputas de poder entre governantes ou líderes de determinados grupos, nos tempos atuais o poder se multifacetou e a busca dele se tornou cada vez mais evidente e presente nas relações interpessoais e sociais das mais diversas maneiras. Se quer um exemplo prático e contundente disso basta olhar à sua volta ou mentalizar o seu cotidiano nas suas relações profissionais, familiares, acadêmicas e etc. As diferenças básicas entre elas seriam as ferramentas e objetivos da manifestação do poder nas situações peculiares que se nos apresentam.
Entretanto, a questão do poder já ocupa teóricos e filósofos desde os primórdios, dividindo as opiniões em todas as esferas e locais por onde já se considerou essa discussão. É válido notar também que correntes de pensamento e movimentos já foram formados na defesa e justificação do poder, ou até mesmo na sua negação total e extinção. Veja à seguir algumas considerações baseadas em diferentes pontos de vista e com diversos propósitos que a história nos mostra.
Por definição apresentada pelo ilustre Prof. titular da USP, Dalmo de Abreu Dalari a questão do poder social resumidamente falando pressupõe em si a predominância de um indivíduo ou grupo de indivíduos à outro. É um fenômeno social e apresenta também bilateralidade e existência de vontades submetidas.
Como sabemos, na construção do conhecimento a dialética socratiana nos sugere à primeiro negar uma verdade para conhecer todas as suas nuances e assim chegar à um conhecimento mais apurado dela ou à plena verdade, considerando sua existência factual. Portanto, a anarquia, como sendo a negação do poder ou sobreposição de um à outro se nos apresenta como a forma de organização social desprovida de dominação, e, portanto, manifestação de poder. Os cínicos foram um dos primeiros a defender a anarquia como forma de organização social que deveria prevalecer em detrimento às outra. Eles criticam a submissão do homem a qualquer outro indivíduo, instituição ou regulamentação de cunho social. O cristianismo também é uma forma de manifestação anárquica e, os primeiros teóricos cristãos preocupados com os efeitos que esta interpretação poderia causar, afirmam que para entender o cristianismo do ponto de vista social é necessário ter em mente a diferenciação do reino deste mundo com o reino de Deus. Para eles a universalização do cristianismo culminaria numa sociedade composta por homens bons e fraternais e eliminaria a necessidade de coerção social, e isso equivale diretamente a aspiração ao anarquismo. Santo Agostinho demonstrou sua mais avançada forma do anarquismo cristão à sua época dando-lhe explicitamente uma conotação social e fazendo o elo de ligação dos assuntos teológicos com os assuntos sociais: “Tomada a rigor esta tese significa que não existe e não pode existir senão uma única cidade digna deste nome, aquela que observa a verdadeira justiça, em suma, cujo chefe é Cristo.”
Dessemelhante do consagrado filósofo e sociólogo Thomas Hobbes, William Godwin no seu posicionamento anárquico defende que o Estado é que faz do homem mal e que o homem, com sua natureza justa e boa, não seria o que conhecemos hoje não fosse a dominação de uns em detrimento a outros. Embora não tendo proposto nenhuma revolução social, ao contrário, com um viés extremamente individualista, Mas Stiner considera que o indivíduo e seus fins como os únicos valores fundamentais. Em ambos a proposta de humanidade viver cada um sob o seu julgo e sempre em harmonia com a natureza, suas leis e fenômenos. Essa ausência absoluta de coerção social sobre os homens, para ele, conduziria a vida social à mesma harmonia desfrutada na relação homem e natureza. Como sabemos, Hobbes defende que a natureza do homem é má e que por isso ele precisa, enquanto homem social, de algum instrumento que lhes regule à liberdade a fim de evitar a “guerra de todos contra todos”. Isso é claro resulta em algumas formas de imposições e limitações da liberdade individual do ser. Visto que, somos potencialmente tudo, e os limites morais são totalmente subjetivos, alguma autoridade legitima superior deve exercer o papel de limitar essa subjetividade para que a mesma não entre em conflito com a alheia e assim conduza o conjunto social ao colapso. Em outras palavras, para ele o Estado é um mal necessário. Por mais paradoxal que isso possa parecer, o próprio homem social é quem confere a legitimidade de poder ao Estado e o direto então de regular as interações sociais das mais diversas formas inclusive no âmbito individual.
Muitos outros porém discorreram sobre a dialética do poder e não serão mencionados devido à abordagem breve a que se intenta essa consideração. Mas é evidente o anseio pelo poder já não é assunto novo na história da humanidade e o mais remoto registro da legitimação do poder que me recordo aconteceu nos clãs dos Egitos antes mesmo da unificação feita pelo Amenofis IV (milhares anos antes de se tornar Egito, quando a humanidade ainda vivia o período que chamamos de pré-história existiam o alto e o baixo Egito, que eram totalmente separados e viviam sob o regime de clãs onde os patriarcas eram as autoridades constituídas desses agrupamentos – sociedade patriarcal).
Nos dias de hoje o poder é manifestado de diversas formas e em diversos âmbitos da esfera social. A idéia de poder hoje não tem apenas a vinculação social e a idéia de coletividade ou de sociedade como um todo intrínseca nessa discussão, a ponto de o discurso inicial sobre o assunto ficar obscurecido frente à questão. O fato é que a banalização dos fatos como um todo e o esvaziamento dos sentidos, tem levado à desinformação das questões que outrora ceifaram muitas vidas e permearam o centro das discussões sociais e políticas da história da humanidade. Os efeitos e as conseqüências disso podem ser notados no cotidiano das escolas, nas desigualdades sociais pois, conhecendo menos não se intenta questionar e geramos pessoas cada dia mais limitadas ou condicionadas às intempéries do poder constituído inertes. Para finalizar, gostaria de mencionar um trecho do livro “A Sombra do Vento” do escritor espanhol Calros Ruiz Zágon, que tem viés amplamente hobbesiano e corresponde à maioria do homem social atual:
“... Pessoas malvadas eles não são não – imbecis, o que não é a mesma coisa. O mal pressupõe uma determinação moral, intenção e certa inteligência. O imbecil ou selvagem não pára para pensar ou raciocinar. Age por instinto, como besta de estábulo, convencido de que está fazendo o bem, de que sempre tem razão e orgulhoso de sair fodendo tudo aquilo que lhe parece diferente dele próprio, seja em relação à cor, credo, idioma, nacionalidade ou sexualidade... O que faz falta no mundo é mais gente ruim de verdade e menos espertalhões limítrofes.”

domingo, 19 de setembro de 2010

Fichamento por citação do Livro "O Vendedor de Sonhos do Augusto Cury". Um rico aprendizado para a vida!

By Vitor Santos



- É possível encontrar um grande amor. Só não esqueça jamais que você poderá ter o melhor parceiro ao seu lado, mas será infeliz se não tiver um romance com a própria vida.
- Se os seus sonhos forem desejos e não projetos de vida, certamente vocês levarão para sepultura seus conflitos. Sonhos sem projetos produzem pessoas frustradas, servas do sistema.
- Se o acaso for o nosso deus e os acidentes, nossos demônios seremos infantis.
- “Conquistas sem riscos são sonhos sem méritos. Ninguém é digno dos sonhos se não usar suas derrotas para cultivá-los.
- Não e a dor que nos muda, como ha milhares de anos pensamos, mas a utilização inteligente dessa dor que fazemos ao longo da vida.
- “Não tema a difamação exterior. Tema seus proprios pensamentos, pois somente eles podem penetrar em sua essencia e destrui-la.”
- Parábola da andorinha: “Certa vez houve uma inundação numa imensa floresta. O choro das nuvens que deveriam promover a vida dessa vez anunciou a morte. Os grandes animais bateram em retirada fugindo do afogamento, deixando ate os filhos para tras. Devastavam tudo que estava na frente. Os animais menores seguiam seus rastros. De repente uma pequena andorinha, toda ensopada, apareceu na contramão procurando a quem salvar. As hyenas viram a atitude da andorinha e ficaram admiradissimas. Disseram: ‘voce e louca! O que poderá fazer com um corpo tão frágil?’ Os abutres bradaram: ‘Utopica! Veja se enxerga sua pequenez!’ Por onde a fragil andorinha passava era ridicularizada. Mas, atenta, procurava alguém que pudesse resgatar. Suas asas batiam fatigadas, quando viu um filhote de beija-flor debatendo-se na água, quase se entregando. Apesar de nunca ter aprendido a mergulhar, ela se atirou na água e com muito esforço pegou o diminuto pássaro pela sua asa esquerda. E bateu em retirada, carregando o filhote no bico.Ao retornar encontrou outras hyenas, que não tardaram a declarar: ‘Maluca! Esta querendo ser heroina!’ Mas nao parou; muito fatigada, so descansou apos deixar o pequeno beija flor em local seguro. Horas depois, encontrou as hyenas embaixo de uma sombra. Fitando-as nos olhos, deu sua resposta: ‘Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilize para fazer os outros voarem’ Ha muitas hyenas e abutres na sociedade. Não espere muito dos grandes animais. Esperem deles, sim, incompreensões, rejeições, calunias e necessidade doentia de poder. Não os chamo para serem grandes heróis, para terem seus feitos descritos nos anais da historia, mas para serem pequenas andorinhas que sobrevoam anonimamente a sociedade amando os desconhecidos e fazendo por eles o que esta ao seu alcance. Sejam dignos de suas asas. E na insignificância que se conquistam os grandes significados, e na pequenez que se realizam os grandes atos.
- Morte – Porque vocês estão desesperados? Não lhes peco que silenciem sua dor, mas que silenciem o desespero. Não espero que estanquem suas lagrimas, mas, os altos níveis de angustia. A saudade nunca e resolvida, mas o desespero deve ser aquietado, pois não honra quem partiu... Vocês estão aqui tristes com sua ausência, mergulhados num sentimento de vácuo existencial porque o estão deixando morrer no único lugar em que ele tem que continuar vivo. Dentro de vocês… Que cicatrizes ele deixou em suas emoções? Onde ele influenciou seus caminhos? Que reações marcaram sua maneira de ver a vida? Que palavras e gestos perfumaram seu intelecto? Onde este silencioso homem grita nos recônditos de suas historias?… Este homem esta vivo ou morto dentro de vocês? … o velório pode ser um ambiente de lagrimas, mas deve ser acima de tudo um ambiente saturado de elogios e recordações solenes. O luto deve ser um ambiente perfumado, uma homenagem para quem partiu. Um ambiente para contar seus gestos, declarar suas ações, comentar suas palavras. A maioria dos seres humanos tem algo para ser declarado…. Declarem o significado dele na vida de vocês. Seu silencio deve alçar vôo de nossa voz….Quando eu morrer não se desesperem. Homenageiem-me. Fale dos meus sonhos, falem das minhas loucuras… Antonio, veja como seu pai foi um homem brilhante apesar dos defeitos dele. Não refreie suas lagrimas; chore tantas vezes quantas desejar, mas não lamente desesperadamente sua perda. Ao contrario honre-o vivendo com maturidade. Honre-o enfrentando seus temores. Elogie-o sendo generoso, criativo, afetivo, sincero. Viva com sabedoria. Creio que se seu pai pudesse usar minha voz neste momento para lhe falar algo, ele lhe daria gritos para encorajá-lo a viver: “Filho, vá em frente! Nao tenha medo do caminho, tenha medo de nao caminhar!”… Somos atomos que se desintegram para nunca mais voltarem a ser o que eram? O q e a existência ou a inexistência? Que mortal sabe? Quem dissecou as entranhas da morte para expor sua essência? A morte e o fim ou o começo?
- Não ha heróis. Todo gigante encontra obstáculos que o transformam em criança, Basta esperar!
- “Nossos conflitos denunciam nossa complexidade. Se nao conseguimos ficar felizes por te-los, pelo menos deveriamos admira-los como fruto da nossa grandeza psiquica.”
- A liberdade nasce da espontaneidade. Muitos mataram sua espontaneidade nas escolas, igrejas, empresas… são robôs admirando máquinas. Nao falam o que pensam.

- Anarquia – Pierre Joseph Proudhon, inspirador desse movimento surgido no século XIX, defendia a tese da construção de uma nova sociedade, capaz de expandir a liberdade individual e libertar o trabalho da exploração do capitalismo industrial. Nessa nova ordem social, constituída pela organização dos trabalhadores, as pessoas tratariam com justiça seus pares e desenvolveriam seu potencial. Os anarquistas não reconheciam o governo vigente, suas leis e instituições. Viviam debaixo do próprio controle. Sem a tutela do Estado, o ser humano, pensavam os anarquistas, seria livre.

- Ou somos fieis a nossa consciência ou gravitamos na orbita do q os outros pensam e falam de nos.

- O poder nas mãos de um sábio o torna um aprendiz, mas na mão de um estulto o torna um ditador. Se algum dia tiverem muito poder, que fantasmas sairão do calabouço do seu inconsciente?

- Usamos os estereótipos como um padrão torpe para tachar as pessoas com determinados comportamentos. Não avaliamos o conteúdo psíquico delas: se possuem determinados gestos, imediatamente as aprisionamos na masmorra do estereotipo, classificando-as como viciadas em drogas, corruptas, doentes mentais. Os estereótipos reduzem as dimensões humanas.

- A discriminação leva horas para ser construída e séculos para ser destruída.

- …a sociedade atual possuiu um rolo compressor que massifica o intelecto dos jovens, aborta o pensamento critico e os otorna estéreis, meros repetidores de dados. O que fizeram com nossas crianças?

- O dinheiro em si mesmo não traz a felicidade, mas a falta dele pode tira-la drasticamente. O dinheiro não enlouquece, mas o amor por ele destrói a serenidade. A ausência do dinheiro nos torna pobres, mas o mal uso dele nos torna miseráveis.

- “Jamais seremos iguais em nossa essência, no tecido intrínseco de nossa personalidade, em nosso pensamento, modo de reagir, ver e interpretar os fenômenos da existência. O sonho da igualdade cresce no terreno do respeito pelas diferenças.

- Fomos contagiados pelo vendedor de idéias que nos ensinou a não negar quem somos. Antes desse contagio éramos todos “normais”, estávamos todos doentes. Queríamos de alguma forma ser deuses, sem saber que ser deus é andar sobrecarregado, tenso, pesado, com o compromisso neurótico de ser perfeito, de se preocupar com a imagem social, de dar importância vital para a opinião alheia, de se cobrar, se punir, exigir. Perdemos a leveza do ser. Parecíamos zumbis engessados pelos nossos pensamentos estreitos. Fomos educados para trabalhar, crescer, progredir e infeliz,ente também para ser especialistas em trair nossa essência no diminuto parêntese do tempo em que existimos. Em que fábrica de loucura vivemos?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Teoria de origem do mundo segundo o Candomblé - Minha contribuição contra a marginalização da religião dos negros, um preconceito fundamentado no racismo histórico.

Assim como toda religião tem sua fundamentação teórica, com o Candomblé não poderia ser diferente e, é muito interessante notar a similaridade entre a teoria segundo o Candomblé para a origem do mundo e as teorias do cristianismo, assim como segue:
“No começo não havia separação entre o Orum, o céu dos Orixás e o Aiê, a terra dos humanos. Homens e divindades iam e vinham coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com suas mãos sujas. O céu imaculado do Orixá fora conspurcado, o branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi reclamar a Olorum. Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o céu e a terra.
Assim o Orum separou-se do mundo dos mortais e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida. Isoladas dos humanos os habitantes do Aiê se entristeceram.
Os Orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados. Foram queixar-se com Olodumare que acabou consentindo o que os Orixás pudessem vez por outra voltar a terra.
Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos. Foi a condição impostas por Olodumare.
Oxum que antes gostava de vir á terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade, ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para receberem seus corpos os Orixás. Oxum fez oferendas a Exú para propiciar sua delicada missão. De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos Orixás.
Veio ao Aiê e juntou mulheres a sua volta, banhou seus corpos com ervas preciosas, cortou seus cabelos, raspou suas cabeças, pintou seus corpos. Pintou suas cabeças com pintinhas brancas como as pintas das penas da conquém, como as penas da galinha-d’angola.
Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços, enfeitou-as com jóias e coroas.
O Ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé, pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio – da – costa.
Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros, e nos pulsos dúzias de dourados indés. O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais.
Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de Ori, finas ervas e Obi mascado com todo condimento de que gostam os Orixás.
Esse axo atrairia o Orixá ao Ori da iniciada e o Orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Finalmente, as pequenas esposas estavam feitas, estavam prontas, e estavam Odara.
As Iaôs eram as noivas mais bonitas que a vaidade de Oxum conseguia imaginar. Estavam prontas para os Deuses.
Os Orixás agora tinham seus cavalos, podiam retornar com segurança ao Aiê, podiam cavalgar o corpo das devotas. Os humanos faziam oferendas aos Orixás, convidando-os à terra, aos corpos das Iaôs. Então os Orixás vinham e tomavam seus cavalos.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores, vibrando as batas e agogôs, soando os xequerês e adjás enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam, convidando todos os humanos iniciados para a roda do Xirê, os Orixás dançavam e dançavam e dançavam. Os Orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os Orixás estavam felizes!
Na roda das feitas, no corpo das Iaôs, eles dançavam e dançavam e dançavam.
Estava inventado o Candomblé.”

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O regime democrático pode ser imposto?

O regime democrático atual estabelece condições de igualdade entre os homens afirmando que todos são iguais perante a lei, abrindo espaço a todos para o exercício de suas liberdades. Mas nem sempre foi assim. Pode-se, ao recorrer à história, acessar várias informações sobre outras formas de regime que vigoraram por muito tempo e que, mesmo depois de extintos, continuaram a exercer influencia nos regimes subseqüentes e continuaram tendo seus defensores figurando ativamente no cenário político mundial. Também não se pode negar a realidade de que ainda hoje existem outras formas de governo vigorando, que não a democrática. Entretanto a concepção dessa análise é mostrar a irônica contradição de atitudes atuais tiranas mascaradas na democracia.
Tomando os Estados Unidos como alvo dessa análise abrir-se-á um vasto leque de considerações contextuais e teóricas que levam a conclusões nem sempre tão coerentes com a proposta original do conceito de democracia, pois, estabelece cotidianamente regras e imposições em todos os campos das Relações Internacionais às quais muitos países do mundo, vendo-se sem escolha, são levados a acatarem e apoiarem por falta de autonomia suficiente para se oporem. Um belo exemplo disso num passado não muito distante foi a invasão do Iraque. Apesar de ter sido admoestado por mais de uma vez pelo conselho mundial de segurança da ONU a não entrar nessa seara, nada pôde deter o ímpeto ideológico do presidente que iniciou a guerra e hoje não consegue remediar e gerenciá-la. O Iraque foi invadido, por uma guerra não legitima desde a sua concepção. O argumento inicialmente usado para justificar tal atitude irrefreada foi de que suspeitava-se de lá estarem sendo produzidas armas químicas e nucleares, embora se saiba que isso foi apenas uma justificativa para legitimar a ação. Sem ao menos comprovar esta afirmação, o então presidente George W. Bush resolveu invadir aquela nação e nada conseguiu detê-lo e, até agora nenhuma arma, da qual eles afirmavam ter descoberto, foi encontrada.
Isso leva a crer que eles tinham outros interesses ao iniciar uma guerra de proporção tão grande e tão devastadora para os dois lados. O que se pode afirmar com isso até agora é que a intenção deles, do ponto de vista estritamente político, dentre outras coisas, era impor o regime democrático lá. Isso não é perfeitamente legítimo porque, a nação é quem deve discutir sob qual tipo de regime viver. Como os Estados Unidos resolveram atacar o Iraque e lá impor seu regime como sendo uma forma de salvação e resgate para aquele povo, a proposta da democracia nesse caso, não foi tão bem interpretada, pois, se para ela todos são iguais perante a lei, o povo de lá era quem deveria decidir qual o regime que queriam ser submetidos.
Essa concepção do sobre o regime democrático como forma de governo nos EUA começa a ser profundamente considerada, especificamente, após o fim da guerra fria quando uma corrente de pensadores americanos, atuais herdeiros do establishment, denominados neoconservadores começam a ditar o que seria, ou pelo menos o que deveria ser os EUA dali pra frente. Neste contexto afirma-se que, pela primeira vez os EUA tiveram a oportunidade de modelar o sistema internacional de uma forma que intensificasse a segurança e expandisse seus princípios, sem qualquer oposição de um adversário poderoso e determinado. É tão forte a convicção dos neoconservadores de estabelecerem a hegemonia democrática que passam a serem chamados de imperialistas democráticos.
A agenda neoconservadora tem como uma das suas partes centrais a mudança de regime e difusão da democracia. Bush filho, adepto dessa corrente, evidenciou isso no seu discurso de posse do segundo mandato quando declarou algumas idéias tais como: a universalidade dos valores norte americanos e a responsabilidade pela sua difusão pelo mundo, no meio do processo implícito de mudança de regime nos governos de outra natureza. Parece uma missão missionária esse tipo de difusão e imposição à mudança de regime, mas, para melhor compreensão é relevante considerar Roosevelt e Wilson. O primeiro, baseava-se no realismo político, no equilíbrio de poder e no interesse nacional o que imprimia fatalmente uma condição de inércia frente à outros regimes e estabelecia uma agenda internacional menos agressiva. O segundo, Wilson, sustentado na visão messiânica de difundir pelo mundo os valores democráticos que fazem dos EUA excepcional. O então presidente Jorge W Bush, em contraste ao seu pai ícone do realismo político, evidência quase sempre um comportamento wilsoniano e, o ápice está na forma em que ambos cuidaram da questão do Iraque. Bush pai e Clinton preferiram manter o Iraque cercado e sob controle limitando os poderes de Saddam tanto no próprio oriente, como no resto do mundo, já o Bush filho enveredou-se numa cruzada democratizadora do Oriente Médio tomando o Iraque como ponto de partida. O grande objetivo das cruzadas era usar o Iraque como vitrine para os outros países da região que ainda viviam sob um regime totalitarista e induzi-los à mudança deste para o democrático. Não se pode porém afirmar que, esta atitude do atual presidente não teve um precedente histórico. Na época do presidente Kennedy, a mesma atitude foi tomada, porém, contra o Vietnã onde se combatia o comunismo da região. Essa ação tão direta de combate a um regime que não seja democrático pode ser manifestada duma forma mais paulatina e menos violenta. Ao invés de recorrer á guerra, Bush poderia ter sido mais paciente e ter esperado essa resolução mais tempo tratando diplomaticamente do assunto e exercendo outros tipos de pressão que não a bélica. Isso reflete uma intolerância fortemente arraigada que, em sua essência, pouco tem a ver com democracia.
Um outro fator a ser considerado é o fato de os americanos, valendo-se de seu poder econômico e militar, desconsiderarem que, é necessário mais que isso para mudar o regime político duma região. Isso se torna arriscado se considerar os riscos da gigantesca dificuldade enfrentada no Iraque em função desse objetivo. Este fator deveria servir de alarme com respeito aos riscos enfrentados, que deveriam aconselhar prudência, compreensão dos limites e maturação dessas experiências antes de multiplicar o cenário de experimentação. Ao contrário, decidiram eles manter a empreitada a todo o custo esquecendo-se que as pressões que exercem, estão obrigando-os a abrirem comportas políticas em toda região com conseqüências imprevisíveis, isso tudo baseados apenas no seu idealismo político não apoiados pelo senso comum. Com isso, pesquisas constataram que o antiamericanismo hoje, é mais acentuado do que em qualquer outra época, e, especialmente no Oriente Médio, essa impopularidade atinge níveis bastante elevados. Sem falar que, ao voltar o poder para os iraquianos, muito provavelmente eles não estabeleceram democracia e estarão então nutridos de todo ódio que seus fanatismos lhes conferem o que, por si só, já é motivo de inúmeras atrocidades observadas no cenário atual. Poderia acontecer o mesmo que o acontecido na Argélia em 1992 onde o islamismo apossou-se novamente de poder e restou aos EUA o golpe de Estado.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ética e Moral

Antes de iniciar a dialética sobre o assunto, é necessário acessar os conceitos de ética no cerne da questão, levando em consideração todas as variações que a palavra abrange, bem como, a origem de tais.

Inicialmente é válido considerar a definição breve de senso moral: este é dado por a maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos semelhantes segundo idéias como as de justiça e injustiça. Isso leva as pessoas a reagirem das mais variadas formas diante de diversas situações, por exemplo, manifestando indignação ante das injustiças sociais, envolvendo-se em campanhas humanitárias e etc. As situações de horror tornaram-se tão comuns atualmente que algumas pessoas chegam até a banalizar sua gravidade, mas, o fato é que independente do grau de dureza de personalidade a que uma pessoa se permitiu chegar, nem assim deixar de ficar espantado ou indignado com as atrocidades tão comuns nos tempos hodiernos. Atrelado à idéia de senso moral, tem-se a consciência moral, que, resumidamente falando, refere-se à avaliação de conduta que levam as pessoas a tomarem decisões por si próprias, a agirem em conformidade com elas e a responderem por si mesmas perante os outros. É válido mencionar que, o exercício do senso moral aliado à consciência moral, tem arraigado fortemente em si, ou, como pressuposto fundamental, a idéia de liberdade do agente. Eles, enfim, dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidas ao bem e o mal, ao desejo de felicidade e ao exercício de liberdade, e, fazem das pessoas, agentes morais.

Dito isso, e imperativo mencionar agora que, a partir dessas características, as pessoas passam então a manifestar-se diante dos fatos. É a vez agora do exercício dos juízos que compõem os julgamentos de uma forma geral, e, margeiam os posicionamentos de cada indivíduo. Antes, porém, é válido considerar a diferenciação dos juízos, sim, pois estes possuem duas conotações. A primeira é chamada de juízo de fato, que trata especificamente das constatações factuais, sem com isso, expressar posicionamento em relação a ele. Marilena Chauí, por exemplo, coloca no seu livro Convite à Filosofia, um exemplo muito prático da manifestação do juízo de fato: “se dissermos está chovendo, estaremos enunciando um acontecimento constatado... e este juízo proferido... é um juízo de fato”. Portanto, é razoável concluir que o juízo de fato se manifesta através das constatações factuais do realmente existe, referendando-se, é claro, no mundo definido por Platão como mundo sensível. A outra vertente disso é chamada de juízo de valor, este, por sua vez, avalia coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos e etc. Isso é, contudo, qualitativo, e, se referência nas impressões pessoais do indivíduo, sua visão de mundo, seus valores, seu contexto social e etc, estes quais, são tomados como normativos, portanto, responsáveis pelo estabelecimento de normas que dizem como devem ser os bons sentimentos, as boas intenções, ações como devem ser e ações livres. Esses juízos assim precedem, respectivamente, da natureza e da cultura. O primeiro é constituído por estruturas e processos necessários, que existem por si mesmos independentemente das pessoas. O segundo, por ter a cultura como precedente, nasce da maneira como os seres humanos interpretam a si mesmos e as suas relações com a natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a por meio do trabalho e da técnica, dando-lhe significados simbólicos e valores.

Passando agora para a moral, um dos objetos a que se destina tratar esta objetiva consideração, normalmente é definida por valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e, à conduta correta e incorreta, válido para todos os membros da sociedade. Pegando o gancho, vê-se aí, a partir das definições anteriores, que o juízo de valor está impregnado nessas normas estabelecidas, e, é completamente influenciado e direcionado pela cultura local. O conceito atual de ética vem concomitante com o conceito da moral, a ponto de, num dado momento, ser difícil, ouso até dizer, impossível, separar ambos.

Oriundo da palavra grega éthos, possui duas traduções, que, numa perspectiva pessoal, se completam entre si. São eles: costume, caráter, índole natural, temperamento, ou, em outras palavras, conjunto das disposições físicas e psíquicas de uma pessoa. Isso é especialmente fundamental porque a filosofia moral, ou a ética, nasce quando, além das questões sobre costumes, também se busca compreender o caráter da pessoa, seu senso moral e a consciência moral que regem sua vida e seu posicionamento perante a sociedade e as situações que lhes advém. O precursor de tudo isso foi Sócrates, porém, ele não será abordado devido ao cunho objetivo com que está sendo concebida essa análise geral.

Tomando agora uma espécie de estudo de caso para apenas direcionar este trabalho por um caminho específico, embora várias interpretações dêem a ele uma abrangência grande, pense agora, depois de estabelecidos os conceitos preliminares, na dialética de ética e a violência. Conceituando violência, entende-se por toda a forma de imposição de padrões e atitudes que violem os já estabelecidos pelo indivíduo. Isso, atualmente, depois de se determinar, também, a abrangência do conceito, encerra em si toda a sorte de desrespeitos à liberdade individual do ser, passando pela violação ao direito de ir e vir e atingindo os direitos de liberdade de expressão, de opção seja ela religiosa, política, sexual, até às diferenças sociais, sexuais e etc, muito fáceis de serem encontradas na sociedade atual. Nesse aspecto, a ética traz como determinação a manutenção do exercício desses direitos, que, caracterizam exatamente a condição de livre que todo ser humano traz consigo desde o momento de seu nascimento, pelo menos, assim dita as normas e a legislação local. Já que, na cultura local, violência é entendida como toda a sorte de profanação, violação e discriminação possível, a ética, até mesmo pela sua concepção, vem contrapor isso e estabelecer limites de ação aos indivíduos, para que, os mesmos exerçam sua liberdade sem ferir a alheia.

Portanto, considerando que a concepção de seres humanos reside no fato de serem racionais, dotados de livre vontade, de capacidade para comunicação e para vida em sociedade, de capacidade para interagir com a natureza e com o tempo, a cultura difundida define a todos como sujeitos do conhecimento e da ação, e, por isso localiza a violência em tudo quanto reduza o ser humano a um objeto. Então, ao definir e afastar formas de violência, uma cultura e uma sociedade estabelecem um conjunto de interdições que devem ser respeitadas por seus membros. Com isso, fazem perceber que a moral supõe uma distinção fundamental: aquela entre o permitido e o proibido. A ética é normativa exatamente porque suas normas determinam permissões e proibições, e visam impor limites e controles ao risco permanente de violência.