quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Um ensaio sobre o poder social - by Vitor Santos

O poder sempre foi um mecanismo muito poderoso de sedução humana. A busca dele sempre marcou a história da humanidade. Embora historicamente só se leva em consideração as disputas de poder entre governantes ou líderes de determinados grupos, nos tempos atuais o poder se multifacetou e a busca dele se tornou cada vez mais evidente e presente nas relações interpessoais e sociais das mais diversas maneiras. Se quer um exemplo prático e contundente disso basta olhar à sua volta ou mentalizar o seu cotidiano nas suas relações profissionais, familiares, acadêmicas e etc. As diferenças básicas entre elas seriam as ferramentas e objetivos da manifestação do poder nas situações peculiares que se nos apresentam.
Entretanto, a questão do poder já ocupa teóricos e filósofos desde os primórdios, dividindo as opiniões em todas as esferas e locais por onde já se considerou essa discussão. É válido notar também que correntes de pensamento e movimentos já foram formados na defesa e justificação do poder, ou até mesmo na sua negação total e extinção. Veja à seguir algumas considerações baseadas em diferentes pontos de vista e com diversos propósitos que a história nos mostra.
Por definição apresentada pelo ilustre Prof. titular da USP, Dalmo de Abreu Dalari a questão do poder social resumidamente falando pressupõe em si a predominância de um indivíduo ou grupo de indivíduos à outro. É um fenômeno social e apresenta também bilateralidade e existência de vontades submetidas.
Como sabemos, na construção do conhecimento a dialética socratiana nos sugere à primeiro negar uma verdade para conhecer todas as suas nuances e assim chegar à um conhecimento mais apurado dela ou à plena verdade, considerando sua existência factual. Portanto, a anarquia, como sendo a negação do poder ou sobreposição de um à outro se nos apresenta como a forma de organização social desprovida de dominação, e, portanto, manifestação de poder. Os cínicos foram um dos primeiros a defender a anarquia como forma de organização social que deveria prevalecer em detrimento às outra. Eles criticam a submissão do homem a qualquer outro indivíduo, instituição ou regulamentação de cunho social. O cristianismo também é uma forma de manifestação anárquica e, os primeiros teóricos cristãos preocupados com os efeitos que esta interpretação poderia causar, afirmam que para entender o cristianismo do ponto de vista social é necessário ter em mente a diferenciação do reino deste mundo com o reino de Deus. Para eles a universalização do cristianismo culminaria numa sociedade composta por homens bons e fraternais e eliminaria a necessidade de coerção social, e isso equivale diretamente a aspiração ao anarquismo. Santo Agostinho demonstrou sua mais avançada forma do anarquismo cristão à sua época dando-lhe explicitamente uma conotação social e fazendo o elo de ligação dos assuntos teológicos com os assuntos sociais: “Tomada a rigor esta tese significa que não existe e não pode existir senão uma única cidade digna deste nome, aquela que observa a verdadeira justiça, em suma, cujo chefe é Cristo.”
Dessemelhante do consagrado filósofo e sociólogo Thomas Hobbes, William Godwin no seu posicionamento anárquico defende que o Estado é que faz do homem mal e que o homem, com sua natureza justa e boa, não seria o que conhecemos hoje não fosse a dominação de uns em detrimento a outros. Embora não tendo proposto nenhuma revolução social, ao contrário, com um viés extremamente individualista, Mas Stiner considera que o indivíduo e seus fins como os únicos valores fundamentais. Em ambos a proposta de humanidade viver cada um sob o seu julgo e sempre em harmonia com a natureza, suas leis e fenômenos. Essa ausência absoluta de coerção social sobre os homens, para ele, conduziria a vida social à mesma harmonia desfrutada na relação homem e natureza. Como sabemos, Hobbes defende que a natureza do homem é má e que por isso ele precisa, enquanto homem social, de algum instrumento que lhes regule à liberdade a fim de evitar a “guerra de todos contra todos”. Isso é claro resulta em algumas formas de imposições e limitações da liberdade individual do ser. Visto que, somos potencialmente tudo, e os limites morais são totalmente subjetivos, alguma autoridade legitima superior deve exercer o papel de limitar essa subjetividade para que a mesma não entre em conflito com a alheia e assim conduza o conjunto social ao colapso. Em outras palavras, para ele o Estado é um mal necessário. Por mais paradoxal que isso possa parecer, o próprio homem social é quem confere a legitimidade de poder ao Estado e o direto então de regular as interações sociais das mais diversas formas inclusive no âmbito individual.
Muitos outros porém discorreram sobre a dialética do poder e não serão mencionados devido à abordagem breve a que se intenta essa consideração. Mas é evidente o anseio pelo poder já não é assunto novo na história da humanidade e o mais remoto registro da legitimação do poder que me recordo aconteceu nos clãs dos Egitos antes mesmo da unificação feita pelo Amenofis IV (milhares anos antes de se tornar Egito, quando a humanidade ainda vivia o período que chamamos de pré-história existiam o alto e o baixo Egito, que eram totalmente separados e viviam sob o regime de clãs onde os patriarcas eram as autoridades constituídas desses agrupamentos – sociedade patriarcal).
Nos dias de hoje o poder é manifestado de diversas formas e em diversos âmbitos da esfera social. A idéia de poder hoje não tem apenas a vinculação social e a idéia de coletividade ou de sociedade como um todo intrínseca nessa discussão, a ponto de o discurso inicial sobre o assunto ficar obscurecido frente à questão. O fato é que a banalização dos fatos como um todo e o esvaziamento dos sentidos, tem levado à desinformação das questões que outrora ceifaram muitas vidas e permearam o centro das discussões sociais e políticas da história da humanidade. Os efeitos e as conseqüências disso podem ser notados no cotidiano das escolas, nas desigualdades sociais pois, conhecendo menos não se intenta questionar e geramos pessoas cada dia mais limitadas ou condicionadas às intempéries do poder constituído inertes. Para finalizar, gostaria de mencionar um trecho do livro “A Sombra do Vento” do escritor espanhol Calros Ruiz Zágon, que tem viés amplamente hobbesiano e corresponde à maioria do homem social atual:
“... Pessoas malvadas eles não são não – imbecis, o que não é a mesma coisa. O mal pressupõe uma determinação moral, intenção e certa inteligência. O imbecil ou selvagem não pára para pensar ou raciocinar. Age por instinto, como besta de estábulo, convencido de que está fazendo o bem, de que sempre tem razão e orgulhoso de sair fodendo tudo aquilo que lhe parece diferente dele próprio, seja em relação à cor, credo, idioma, nacionalidade ou sexualidade... O que faz falta no mundo é mais gente ruim de verdade e menos espertalhões limítrofes.”

2 comentários:

  1. "O que faz falta no mundo é mais gente ruim de verdade e menos espertalhões limítrofes"
    Gostaria que seu texto atingisse um número enorme de pessoas hoje, e que todos votassem conscientes amanhã...seguirei sonhando...e quem sabe um dia teremos em nossa maior parte da população a sabedoria para entender o verdadeiro sentido das palavras, e do poder que cerca todos nós.

    **'ss

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  2. Oi vitor. legal seu blog.
    pois eh e falando em responsabilidade e consciencia. que pais e esse onde nossos eleitores elegem alguem como o Tiririca para Deputado Federal? Nossa que tristeza e que vergonha desse meu povo.

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